PARADOXO TEMER III

Lavareda analisa a atual situação política e fala sobre 2018

O cientista político Antonio Lavareda diz que um dos problemas da política é a qualidade dos parlamentares brasileiros

Da editoria de Política
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Publicado em 30/12/2017 às 14:50
Foto: Rodrigo Lobo
O cientista político Antonio Lavareda diz que um dos problemas da política é a qualidade dos parlamentares brasileiros - FOTO: Foto: Rodrigo Lobo
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O sociólogo,  advogado e cientista político Antonio Lavareda analisa um pouco do cenário político, citando as poucas vezes em que um presidente com baixa popularidade conseguiu ter um crescimento econômico depois da redemocratização. Isso também ocorreu com os ex-presidentes José Sarney e Itamar Franco. 
Lavareda diz que Temer tem o controle mais do que razoável sobre o seu partido e vai ser muito importante na redefinição do que o PMDB fará na eleição de 2018. Ele também afirma que um dos problemas da política é “a qualidade dos parlamentares brasileiros” e argumenta que é necessário discutir as reformas na próxima campanha eleitoral. Confira:

 JORNAL DO COMMERCIO – A economia está voltando a crescer, mas o presidente Michel Temer é um dos mais impopulares. Por que ocorreu o descolamento da economia ?
ANTONIO LAVAREDA – Primeiro, a escolha de uma equipe econômica de qualidade indiscutível aos olhos do mercado e a definição, antes mesmo da posse, mais precisamente desde que o PMDB divulgou seu documento “Ponte para o Futuro”, de uma agenda econômica reformista voltada para o enfrentamento do processo recessivo, formando um dos trilhos que se mostraria fundamental para que os investidores nacionais e internacionais recuperassem a confiança e participassem com mais entusiasmo dos leilões de concessões. Também ocorreram demonstrações inequívocas de uma sólida base congressual manejada pelo governo com maquiavélica habilidade, alternando gratificações e punições, o que lhe permitiu estabilidade política e a aprovação de parte significativa dessa agenda econômica. Dito de outra forma, os agentes econômicos entenderam que o governo contava com baixa estima da opinião pública, de outro, uma vez mantido o controle de uma maioria relativamente estável no congresso, também era verdadeiro que ele poderia aprovar uma agenda modernizadora.

JC – Politicamente o que isso significa?
LAVAREDA – Uma vez trazida ao debate público essa inconclusa agenda de reformas, não se imagine que nas eleições do ano que vem ela possa desaparecer por passe de mágica. As campanhas deverão conviver com esse debate. Esquerda, centro e direita precisarão se posicionar. Não apenas com a postura simplista do “a favor” ou “contra”. A eleição de 2018 deve ter um debate mais racional do que as últimas eleições presidenciais. Muito provavelmente vai ser necessário os candidatos não só desenvolverem as suas propostas, os seus planos de ação, mas explicar como virão os recursos necessários para o desenvolvimento dessas ações. Será necessário discutir a necessidade ou não das reformas. Alguns tentarão o caminho mais fácil e demagógico de afirmar que com o suposto fim da corrupção, o dinheiro poupado será suficiente para mudar o País. Mas isso não se sustentará, porque está longe da verdade.

JC – Na história recente do País quais foram os presidentes mais impopulares cujas gestões foram marcadas pelo crescimento da economia?
LAVAREDA – Para uma sociedade basicamente pobre como a nossa, o crescimento econômico é algo dramaticamente imperioso. Um processo recessivo que nos faz encolher 7% , 8%, tem consequências devastadoras. O governo Sarney, que sucedeu a ditadura, apesar de conviver no seu final com elevada impopularidade (apenas 7 % de ótimo e bom contra 60% de ruim e péssimo) contava com um bom desempenho da economia que na média cresceu mais de 4% ao ano no seu mandato. Outro exemplo é o de Itamar Franco, que também chegou ao poder pelo impeachment do antecessor. Ele começou com baixa popularidade em 1994, ano que terminou com a eleição do seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, consagrando seu governo. Desde o ano anterior estava em marcha o Plano Real que mudaria de uma vez por toda nossa macroeconomia. Mas o reconhecimento da opinião pública demoraria a chegar. Em janeiro daquele ano, Itamar obtinha de ótimo e bom apenas 12%, segundo o Ibope.

IMPOPULAR

JC – E Temer foi o mais impopular depois da redemocratização?
LAVAREDA – Se fizermos uma leitura estrita dos números, a resposta é sim. Se ampliarmos o raciocínio para tentar entender por que não vemos grandes manifestações contra ele nas ruas, talvez tenhamos que reconhecer a existência de uma parcela algo maior que esses 6% que o avaliaram de forma positiva na última pesquisa CNI/Ibope com que talvez ele conte.

JC – E por que não vemos grandes manifestações contra o governo dele nas ruas já que a popularidade é tão baixa?
LAVAREDA – As pessoas sabem que não podem ter o “governo ideal”. Mas o certo é que continuará intrigando os analistas o fato de um governante com tão baixa popularidade não ser alvo de grandes manifestações de repulsa. Talvez a falta de alternativas explique isso. Talvez o desejo de escapar a novos traumas, como outro impeachment, também.

JC – Por que não há uma renovação dos quadros políticos?
LAVAREDA – O sistema eleitoral nosso é muito ruim. O sistema eleitoral parlamentar que estabelece as regras para fazer a escolha dos vereadores, deputados estaduais e federais é um sistema proporcional de lista aberta que faz do processo uma competição muito cara.

JC – Mas o que a gente vê é muitos políticos colocando os seus filhos na sua sucessão...
LAVAREDA – Os filhos seguem os pais em muitas profissões. E isso não é um problema grande. O problema é a qualidade dos nossos parlamentares brasileiros que, cada vez mais, são aqueles que foram como candidatos capazes de amealhar uma soma maior de recursos, para disputar as eleições mais caras. Com isso, vai diminuindo o número daqueles parlamentares que têm de fato um conteúdo político, mas não são capazes de obterem grandes somas de recursos gastos nas suas respectivas campanhas.

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