POLÍTICA

As fake news e a realidade

Até um monitor de páginas políticas da USP teve as suas informações divulgadas por falsas notícias

Ângela Fernanda Belfort
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Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 01/07/2018 às 7:01
Ilustração: Thiago
Até um monitor de páginas políticas da USP teve as suas informações divulgadas por falsas notícias - FOTO: Ilustração: Thiago
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A criatividade dos que fazem fake news chama a atenção e traz preocupações não só para as autoridades que devem zelar pela normalidade das próximas eleições de outubro, mas para cidadãos – incluindo políticos –. Na semana passada, um renomado portal – o qual pertence a um grande grupo de comunicação – publicou uma matéria mostrando que um site de um pequeno produtor de conteúdo publicou várias notícias falsas. Uma delas assinada por uma jornalista que nunca existiu e também não frequentou as instituições de ensino citadas na sua página pessoal do face. E a poucos meses da eleição, alguns sites de produtores independentes se destacam por publicar, repetidamente, notícias forjadas que buscam confundir a opinião pública. “São as fake news sobre fake news”, resume um dos coordenadores do Monitor do Debate Político no Meio Digital e também professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP) Márcio Moretto, se referindo a uma notícia que teve grande alcance na internet dizendo que a USP tinha feito um levantamento mostrando sites que mais produzem fake news.

“Primeiro, nunca fizemos esse levantamento. Ele foi realizado por uma entidade que pegou os nossos dados disponibilizados publicamente na internet”, resume Márcio. No entanto, notícias fakes atribuíram as informações à USP. O monitor acompanha o conteúdo de páginas sobre política. O levantamento acima citado foi feito pela Associação dos Especialistas em Políticas Públicas de São Paulo (AEPPSP) e enumerou pelo menos 17 sites que publicam, rotineiramente, notícias forjadas. Eles têm aspectos em comum: são .com ou .org, dificultando a identificação dos autores; não mostram claramente quem são os administradores ou corpo editorial; o visual é poluído – na intenção de se confundir com grandes portais – e possuem o discurso de ódio.

Márcio argumenta que esse tipo de produção de conteúdo oferece uma explicação mais simples para fenômenos difíceis de explicar. E acrescenta: “na internet, as pessoas são responsáveis pelos compartilhamentos que fazem”.

ALCANCE

“Muitas dessas ‘fake news’ têm um alcance maior de cliques, gerando algum incentivo econômico suficiente para mobilizar atores que fazem esse tipo de conteúdo”, diz. E acrescenta: “as mais compartilhadas estão na dinâmica da polarização na política. As pessoas compartilham informações que corroboram o pensamento delas na expectativa de convencer outros em detrimento de ser verdade ou não”, conta.

Ele argumenta também que “estamos num momento muito delicado porque, mesmo a punição aos pequenos produtores de conteúdo, deve ser muito cuidadosa porque é interessante para a democracia ter pessoas com poucos recursos postando opiniões diferentes. Cabe ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) separar o joio do trigo”, conclui, se referindo a distinção que entre uma matéria ou artigo e as fakes news.

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