SUSTENTÁVEL

Projetos que deram certo na Rede Pernambucana de Municípios Saudáveis

Experiências como a de resíduos sólidos em Sairé e a escola Tancredo Neves, em Limoeiro, saíram do papel

Angela Fernanda Belfort
Cadastrado por
Angela Fernanda Belfort
Publicado em 11/08/2019 às 7:01 | Atualizado em 01/06/2022 às 19:04
Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem
Experiências como a de resíduos sólidos em Sairé e a escola Tancredo Neves, em Limoeiro, saíram do papel - FOTO: Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem
Leitura:

A Rede Pernambucana de Municípios Saudáveis (RPMS) ajudou a tirar do papel projetos que mudaram a realidade de pessoas em municípios como:

  • Sairé: que é exemplo na área de tratamento dos resíduos;
  • Limoeiro, com uma grande transformação de uma escola na comunidade onde fica o lixão da cidade;
  • Barra de Guabiraba, onde várias donas de casa se tornaram “empreendedoras”.

E aí saudável inclui ações preventivas que podem resultar numa melhor qualidade de vida da população.

Como participar da rede Pernambucana de Municípios Saudáveis?

Um dos critérios para participar da RPMS é o município enviar pessoas para fazer uma capacitação técnica. Depois disso, elas passam a atuar como formador do município saudável.

Sairé é apontada como um dos municípios mais bem sucedidos na Rede. Lá, foi implantada um sistema de tratamento de resíduos sólidos que destina 70% de tudo que é coletado à reciclagem. É o maior percentual entre as cidades pernambucanas.

A iniciativa contou com apoio de várias instituições e do executivo Marcos Magalhães, na época presidente da Philips.

O êxito de Sairé se deve às ações da RPMS e sua metodologia intersetorial afirmativa, pois a base de toda sustentabilidade se dá por meio do desenvolvimento humano, contemplando um melhor relacionamento entre os semelhantes e o planeta em que vivemos”, afirma o hoje secretário de Administração e Planejamento de Sairé, Wendes Oliveira. Ele foi um dos técnicos que passou pela capacitação da RPMS e fez treinamento nessa área no Japão.

Saúde de Sairé sendo impactada pela ação

O impacto do destino certo dos resíduos na saúde é grande. Sairé não teve um caso de microcefalia, uma síndrome congênita relacionada à Zika, doença transmitida pelo mesmo mosquito que provoca a dengue.

Antes de implantar o atual sistema de resíduos sólidos, foram feitas várias reuniões com os moradores da cidade que também mudaram a postura de descartar o lixo incorretamente.

A experiência de Sairé já passou por gestores municipais de partidos diferentes, mas continua sendo “prioritária” para o município. “Recebemos muitas visitas de outras cidades que também desejam implantar um projeto parecido”, conta Wendes.

Transformação nas escolas em Limoeiro

Transformação radical passou a Escola Municipal Tancredo Neves, no Sítio Coqueiros, numa comunidade pobre onde ficam o lixão e o presídio de Limoeiro, a 80km do Recife.

E essa transformação teve pouco apoio financeiro e muita boa vontade, principalmente da promotora de municípios saudáveis que atua em Limoeiro Maria Gorethy Amorim, que liderou a mudança (ver matéria vinculada).

A grande mutação foi ver as pessoas perceberem que isso aqui é nosso e que todo mundo tinha que cuidar. As pessoas moravam aqui, mas não se incomodavam com o lixão”, conta a promotora de municípios saudáveis que atua no município Sandra Silva, se referindo à escola.

PRESERVADO

O estabelecimento se tornou um bem a ser preservado. “Acho muito importante ter uma escola que melhora a cada ano e fica perto de casa. Quando posso, ajudo nas atividades que precisam lá”, diz a catadora de lixo Maria Cristina Silva.

Ela tem um filho de sete anos que está matriculado na escola. Ela ganha R$ 157 de Bolsa Família por mês e “tira” cerca de R$ 200 vendendo, a cada dois meses, o material reciclável que coleta no lixão. E afirma:

Vou ter que ralar para pagar a roupa de R$ 80 que o meu filho vai vestir no desfile do 07 de setembro. Ele vai ser um dos destaques”, conta, com orgulho, acrescentando que o estudo é muito importante para melhorar de vida. A outra filha dela, que tem 17 anos, está no segundo ano do ensino médio, cursando informática na Escola Técnica Estadual, também na comunidade.

Geração de oportunidades profissionais para mulheres de Barra de Guabiraba

As capacitações na RPMS contribuíram para fazer com que um grupo de oito mulheres de Barra de Guabiraba passasse a ter uma profissão: artesã.

O treinamento fez a gente despertar para o empreendedorismo e aprender que tudo funciona em cadeia. Também abordou a independência da mulher”, afirma a promotora dos municípios saudáveis que atua em Barra de Guabiraba, Mary Jean.

 Com ajuda de terceiros, elas fundaram um Centro de Apoio às Associações de Bairro de Barra de Guabiraba, conseguem escoar a produção para o Recife e abriram uma lojinha na casa de uma das integrantes do grupo.

O grande desafio desse projeto é a acolhida dos gestores, porque desenvolve o empoderamento das pessoas. E os gestores (municipais) muitas vezes não entendem esse empoderamento, principalmente das mulheres”, revela o conselheiro do Conselho da Criança e do Adolescente de Barra de Guabiraba, José Manoel da Silva Neto.

Na RPMS é usado o método Bambu que tem a finalidade de destacar as potencialidades e provocar o empoderamento dos participantes do grupo.

O forte é trabalhar a intersetorialidade, a participação social, a política pública e o ambiente saudável. As capacitações também estimulam os promotores a elaborarem um plano final para pôr em prática”, conta a diretora do Núcleo de Saúde Pública (NUSP) da UFPE, Socorro Freire. A pesquisadora do NUSP Rosana Salles complementa: “a ideia é gerar uma massa crítica nesse aprendizado”.

Em todo o Estado, 24 municípios aderiram a RPMS e já foram treinados cerca de 750 promotores de saúde. As organizadoras não tem quantos desses participantes continuam desenvolvendo atividades relacionadas à rede.

Mas por que em alguns municípios as iniciativas deram certo e em outros não houve continuidade nas ações adotadas? “Há prefeitos que tomaram posse em 2017 e até agora não tomaram conhecimento do projeto. Há uma cultura de não querer saber o que o gestor anterior fez. E essa postura prejudica o desenvolvimento de políticas públicas”, conclui Socorro.

Últimas notícias