MESSIANISMO POLÍTICO

A herança de Dom Sebastião na política brasileira

O Brasil vive esperando por um salvador da pátria...

Ângela Fernanda Belfort
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Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 16/11/2019 às 18:48
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"Infeliz do povo que precisa de heróis”. A frase dita é por um personagem numa peça de autoria do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, escrita no fim da década de 1930. Na política nacional, os heróis são os “salvadores da pátria” que alimentam o populismo, a política rasa sem discussões sobre os verdadeiros problemas que temos que enfrentar, se quisermos ser uma nação desenvolvida: mais eficiência na saúde, educação, tecnologia e, porque não, também na política.

“Podemos dizer que os salvadores da pátria nos remetem a uma tradição bastante antiga que herdamos de Dom Sebastião, a ideia de que alguém voltará para restituir a nossa glória e grandeza”, lembra o historiador e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), José Alves de Freitas Neto. Dom Sebastião foi rei de Portugal entre 1557 e 1578, quando desapareceu na África, gerando o sebastianismo, uma crença messiânica que a sua volta ao país ocorreria milagrosamente.

O Brasil vive esperando “salvadores da pátria”. Passamos por Jânio Quadros, Collor de Mello. E essas situações têm algo parecido com a atual: não há consenso. Não se constroem soluções que convençam a maioria. “É interessante que quase sempre o salvador da pátria vem com uma prerrogativa de moralização, que não foi diferente dos outros sistemas e teve corrupção. Há uma escolha a partir do imediatismo, sacrificando o futuro”, analisa o docente.

E o futuro só vai se tornar algo bom para todos se houver consenso, com a Justiça funcionando e as demais instituições garantindo o Estado democrático de Direito. É importante começar hoje dizendo ao seu filho pra ser tolerante, honesto e acreditar que uma sociedade melhor se constrói um dia depois do outro, democraticamente. Desse modo, quem sabe a próxima geração não espere por um Dom Sebastião.

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