Igor Maciel, da coluna Pinga Fogo*
Em 2010, em uma viagem pela Inglaterra, presenciei uma cena, no mínimo inusitada, em uma casa de câmbio. Duas jovens norte-americanas tentavam comprar Libra Esterlina usando o Dólar. Ao descobrirem que a moeda britânica era mais cara do que a dos EUA, ficaram surpresas. Ao receberem o valor após o câmbio, se revoltaram. Em voz alta, reclamavam não ser possível que a moeda delas valesse menos do que a Libra. As duas adolescentes acharam que estavam sendo enganadas. É sempre curioso quando aspectos de uma cultura se confrontam com a realidade.
O atendente na casa de câmbio se manteve entre o ar de riso e a surpresa com a reação. Elas trocaram o valor e foram embora. Retire da equação a ignorância das jovens sobre a valorização histórica da moeda inglesa e o que sobra é o sentimento que todo americano tem, ampliado pela educação local, de uma superioridade nata e nem um pouco solidária. O ditado diz que é preciso conhecer os inimigos melhor que os amigos. Essa frase só faz sentido se você for perspicaz o suficiente para conhecer bem os amigos antes. Bolsonaro conhece pouco ou quase nada sobre os EUA. Isso é perigoso na medida em que nem mesmo a natureza básica do "amado" Trump o presidente brasileiro entende.
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Trump enfrenta um processo de impeachment enquanto se prepara pra uma eleição. O "amor" de Bolsonaro não deve ajudar muito contra isso, na luta para evitar a taxação do aço brasileiro. Mesmo que consiga algo, é importante ler a letras pequenas. Trump já espera que Brasil e Argentina corram para tentar resolver a situação e certamente já os espera com alguma nova ideia. Em um acordo com os EUA, um lado sempre vai se beneficiar mais e não será o Brasil nem a Argentina. Difícil é saber se Bolsonaro vai ser capaz de ir além da paixão nessa conversa.
*Igor Maciel é titular da coluna Pinga Fogo, no Jornal do Commercio