Lá onde eu moro

A princesinha do mar recifense

Pródigo em beleza natural na orla e em serviços, o bairro de Boa Viagem carrega no nome sua condição natural de ser porta de saída do Recife. Dono da beira-mar mais famosa do Estado, ele é apresentado pela jornalista Mirella Martins

Carol Botelho
Cadastrado por
Carol Botelho
Publicado em 16/04/2012 às 11:00
Flora Pimentel/JC Imagem
FOTO: Flora Pimentel/JC Imagem
Leitura:

Difícil falar em Boa Viagem sem mencionar a praia. É principalmente na orla de um dos cartões-postais mais famosos do Recife que a maior parte da vida do bairro acontece, no mar, nas areias, no calçadão e nas barracas de coco. Sinônimo de lazer democrático, praia é moradia feliz, principalmente para aqueles que estão de frente para ela, como os que ostentam Avenida Boa Viagem no endereço.



É o caso da jornalista Mirella Martins, 34 anos, moradora do bairro que é tema da série Lá onde eu moro, que vem destacando os bairros do Grande Recife. “Moro aqui desde que nasci porque gosto muito da vida ao ar livre. Sempre que posso, dou um mergulho nesse mar antes de levar meus filhos à escola”, conta Mirella. Da avenida para dentro, Boa Viagem também oferece inúmeras opções de serviço. “Tem cinema, shopping, boas lojas, bancos, farmácias...”.

Mas nem sempre foi assim. No começo do século passado, o bairro, que já foi considerado lugar de veraneio, só contava com a Igreja de Boa Viagem, de estilo barroco, de 1707, que fica na Pracinha de Boa Viagem, e com poucas casas. “O lugar era apenas uma das saídas sul da cidade. Daí o nome Boa Viagem”, diz o professor de história da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), José Ernani Andrade.

A urbanização, que começou em 1925, na gestão do então governador Sérgio Loreto, aconteceu debaixo de críticas. “As pessoas diziam que Boa Viagem era muito longe, que era um desperdício de dinheiro construir locais de acesso para lá e investir no lugar como bairro”, relata José Ernani.


Arnaldo Carvalho/JC  Imagem
É na orla de BV, um dos cartões-postais do Recife, que a vida do bairro acontece - Arnaldo Carvalho/JC Imagem
Flora Pimentel/JC Imagem
Mirella Martins guiou a Arrecifes pelos lugares que mais curte no seu bairro - Flora Pimentel/JC Imagem
Flora Pimentel/JC Imagem
Mirella e os filhos Rogério, 5 anos, e Theo, 8 meses, adoram passear na areia de BV de tardezinha - Flora Pimentel/JC Imagem
https://jconline.ne10.uol.com.br/canal/suplementos/arrecifes/noticia/2012/04/16/a-princesiFlora Pimentel/JC Imagem
Mercado de Boa Viagem é onde se encontra de tudo um pouco - https://jconline.ne10.uol.com.br/canal/suplementos/arrecifes/noticia/2012/04/16/a-princesiFlora Pimentel/JC Imagem
https://jconline.ne10.uol.com.br/canal/suplementos/arrecifes/noticia/2012/04/16/a-princesiFlora Pimentel/JC Imagem
Placa na orla da mais famosa praia do Recife alerta sobre presença de tubarões no mar - https://jconline.ne10.uol.com.br/canal/suplementos/arrecifes/noticia/2012/04/16/a-princesiFlora Pimentel/JC Imagem
https://jconline.ne10.uol.com.br/canal/suplementos/arrecifes/noticia/2012/04/16/a-princesiFlora Pimentel/JC Imagem
Rogério (com Theo) só precisa atravessar a avenida beira-mar para andar de skate e jogar tênis - https://jconline.ne10.uol.com.br/canal/suplementos/arrecifes/noticia/2012/04/16/a-princesiFlora Pimentel/JC Imagem
Flora Pimentel/JC Imagem
Pasteleiro que fica parado em frente ao Colégio Sta. Maria faz a festa dos estudantes - Flora Pimentel/JC Imagem
Flora Pimentel/JC Imagem
Capela do Menino Jesus, na Conselheiro, é marco religioso de BV - Flora Pimentel/JC Imagem
Flora Pimentel/JC Imagem
Tempero da Baiana, no Conj. Pernambucano, na Av. Cons. Aguiar, está no mapa de gastrô de Mirella - Flora Pimentel/JC Imagem
https://jconline.ne10.uol.com.br/canal/suplementos/arrecifes/noticia/2012/04/16/a-princesiFlora Pimentel/JC Imagem
Pracinha de Boa Viagem é um dos ícones do bairro que um dia foi destino apenas de veraneio - https://jconline.ne10.uol.com.br/canal/suplementos/arrecifes/noticia/2012/04/16/a-princesiFlora Pimentel/JC Imagem

B.V., abreviação muito usada por quem mora no bairro, não somente vingou como se tornou um dos metros quadrados mais caros da capital, mesmo com os problemas atuais que enfrenta, como superpovoamento, verticalização e trânsito intenso. “É por isso que gosto de morar no Primeiro Jardim, pois fica na fronteira com o Pina, e não pego um trânsito tão intenso para voltar do Centro”, explica Mirella. E pensar que, no passado, a jornalista jogava vôlei e queimado com as amigas em plena Rua dos Navegantes. “Lembro que só de vez em quando a gente levantava a rede para os carros passarem”.



Trocando o barulho das buzinas pelo o do mar, Mirella não perde uma praia nos fins de semana, devidamente munida de cadeira, guarda-sol e de uma caipirinha acompanhada da enorme variedade de quitutes vendidos na areia, como codorna e queijo coalho assado.

Mas o que gosta mesmo é de ir à praia no que ela chama de dia clássico de B.V. “Esse dia é de lua cheia, quando o mar fica bem sequinho e é possível tomar banho sem se preocupar com os tubarões, já que os arrecifes nos protegem”, diz.

No calçadão, a jornalista passeia de bicicleta ou a pé com os filhos Rogério, 5, e Theo, 8 meses. “Também adoro comer açaí na barraca de coco de seu Inaldo”, acrescenta. O filho mais velho ainda anda de skate e joga tênis nas quadras na frente de casa. E as empregadas domésticas de Mirella fazem ginástica na Academia da Cidade, localizada também à beira-mar.

Quando precisa de serviços de sapateiro e chaveiro, ou ainda de reabastecer a despensa de castanha de caju e mel de abelha, ela recorre ao Mercado de Boa Viagem, que tem preço bem mais em conta para os padrões do bairro. “É o museu de B.V. Lá encontro peças de eletrodomésticos antigos que as oficinas não vendem mais”, conta.

Nas noites de quinta-feira, a programação inclui a Missa da Graça, na Capela do Menino Jesus, na Avenida Conselheiro Aguiar. “Tenho muita fé e a missa foi um alternativa à terapia. Faço uma reflexão e peço saúde e proteção para minha família”, diz. Já as noitadas de fins de semana, por causa da lei seca, começam sempre a pé, nos restaurantes próximos de casa. Para ocasiões especiais, ela costuma escolher entre o Kojima e o La Cuisine, no Pina, ou ainda o Wiella, no Shopping da Decoração, na Avenida Domingos Ferreira.

Mirella também gosta de iguarias gastronômicas menos estreladas e não menos gostosas, como o acarajé vendido no Tempero da Baiana de segunda a sexta, no térreo do Conjunto Pernambucano, na Conselheiro Aguiar. “Na Padaria Boa Viagem, encontro o melhor pão francês, e o presunto cortado bem fininho”. Em frente ao Edifício Califórnia, a jornalista se refestela de culinária turca, na Casa do Kebab. “Meu preferido é o de carneiro com molho de iogurte”, diz.

A memória gastronômica dos tempos de estudante, a jornalista credita ao pastel do Ceará, que até hoje fica parado em frente ao Colégio Santa Maria, na Rua Padre Bernardino Pessoa, e onde Mirella estudou. “É uma delícia, todo melecado no açúcar e ainda com doce de leite”, derrete-se.

Na adolescência, a paquera rolava na feirinha instalada na Pracinha de Boa Viagem. “Hoje, de vez em quando, passo por lá para comer tapioca”. Mas ela e os filhos preferem o Parque Dona Lindu, diversão garantida para ficar ao ar livre sem ir para muito longe. “O importante é não ficar preso vendo TV”. Sem dúvida, quem mora em Boa Viagem só fica sem divertimento se quiser.

Últimas notícias