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Daniel Santiago: jardineiro do passado

Andando pelas ruas do Recife, de chapéu Panamá e bengala, o artista plástico garanhuense Daniel Santiago, 73 anos, nos remete a um tempo em que caminhar era mais comum do que ficar preso no trânsito, e que casarões e árvores frondosas não podiam ser chamados de raridades. Efeitos do progresso, que o próprio Daniel lamenta, para logo depois resignar-se. Com um misto de felicidade e nostalgia, ele falou à repórter Carol Botelho sobre viagens, paixões, solidão e arte.

Carol Botelho
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Carol Botelho
Publicado em 29/05/2012 às 10:33
Flora Pimentel/JC Imagem
FOTO: Flora Pimentel/JC Imagem
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JC – Onde o Recife é inspiração?
DANIEL SANTIAGO – Em qualquer lugar onde ainda existam casas antigas e árvores, como no Poço da Panela, no Pátio de São Pedro e nas ruas do Centro da cidade. Costumava colocar o pincel e o cavalete na rua e pintar as paisagens.

JC – Gosta do Recife moderno?
DANIEL – Acho muito bonita a urbanização da orla de Boa Viagem, por exemplo, ou algumas composições de prédios modernos ao lado dos antigos, com as árvores e o emaranhado dos fios de alta tensão. Tenho pena da cidade estar mudando tanto. Mas acho que é coisa de velho pensar assim. É algo inevitável. É da natureza urbana. Para fazer a Avenida Conde da Boa Vista, muitos casarões foram desmanchados.

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Artista plástico garanhuense Daniel Santiago nos remete a um Recife que não existe mais - Flora Pimentel/JC Imagem
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Artista plástico garanhuense Daniel Santiago nos remete a um Recife que não existe mais - Flora Pimentel/JC Imagem
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Artista plástico garanhuense Daniel Santiago nos remete a um Recife que não existe mais - Flora Pimentel/JC Imagem
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Artista plástico garanhuense Daniel Santiago nos remete a um Recife que não existe mais - Flora Pimentel/JC Imagem
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Artista plástico garanhuense Daniel Santiago nos remete a um Recife que não existe mais - Flora Pimentel/JC Imagem
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Artista plástico garanhuense Daniel Santiago nos remete a um Recife que não existe mais - Flora Pimentel/JC Imagem


JC – Se não vivesse aqui, onde gostaria de morar?
DANIEL – Em Salvador. É a cidade mais bonita do mundo, mais romântica...

JC – Sozinho ou acompanhado?
DANIEL – Solitário. Por isso gosto de cuidar das plantas. Fiz um curso de jardinagem na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Passei 15 anos plantando na orla da Praia de Barra de Jangada e fiz uma instalação ecológica com castanheiras. Quando fizeram a Ponte do Paiva, parte foi colocada abaixo.

JC – Como é sua rotina?
DANIEL – Estou aposentado. Mas cuido do meu arquivo. O computador modificou totalmente meu trabalho de arte. Eu era do pincel e do cavalete. Agora faço arte, pesquiso e escrevo romances. Atualmente estou trabalhando na obra Soberbo estendal, que consiste em fotos dos varais dos meus vizinhos. Depois vou expor o resultado.

JC – Sua atual exposição chama-se De que é que eu tenho medo? Qual a resposta?
DANIEL – Tem uma letra de um tango de Carlos Gardel em que ele diz algo como: “Tenho medo do passado que vem perturbar meus sonhos”.

JC – Passado é para guardar ou jogar no lixo?
DANIEL – É para guardar e lembrar sempre. Reviver é melhor do que viver.

JC – É bem-humorado?
DANIEL – Mau humor é falta de saúde.

JC – O que lhe alegra?
DANIEL – Antes gostava muito de comer buchada com cachaça e doce de jaca de sobremesa. Frequentava bares como o Mustang e os botecos da Praça do Sebo. Mas o médico disse que ou eu parava de beber ou morreria dormindo. Agora meus dois netos é que me deixam feliz. Acho que sou mais feliz do que preciso e já estou vivendo no lucro. Me divirto com qualquer bobagem. Adoro conversar com as pessoas na rua.

JC – Seu trabalho é marcado pelas performances e instalações de rua. Já teve vergonha de se expressar em público?
DANIEL – Não. Depois da primeira, me acostumei. Mas sou introvertido. Acho que se fosse mais assanhado, teria mais sucesso.

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