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O Recife é fonte de inspiração para bailarina

Confira a íntegra da entrevista com a dançarina Liana Gesteira, publicada na revista Arrecifes

Luísa Ferreira
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Luísa Ferreira
Publicado em 09/07/2012 às 10:55
Foto: Igo Bione/JC Imagem
Confira a íntegra da entrevista com a dançarina Liana Gesteira, publicada na revista Arrecifes - FOTO: Foto: Igo Bione/JC Imagem
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O gosto pelas palavras a conduziu ao jornalismo, mas é com o corpo que ela prefere se expressar. Nascida e criada no Recife, a dançarina Liana Gesteira, 32 anos, revelou à repórter Luísa Ferreira que vê no caos da cidade uma fonte de inspiração. Liana, integrante da Cia. Etc. e do Coletivo Lugar Comum, participou em dois espetáculos da 10ª Mostra Brasileira de Dança, que terminou no último domingo (8).

JC –Você dança desde os 8 anos. E o jornalismo, profissão em que se graduou?
LIANA GESTEIRA – Na minha época, ainda não existia graduação em dança aqui. Gostava de escrever, então escolhi jornalismo. Passei alguns anos me dividindo entre as duas atividades, porque não sabia se conseguiria me sustentar como bailarina. Depois de morar por três anos em Brasília, resolvi, em 2008, voltar ao Recife e me dedicar integralmente à dança.

JC – O que lhe motivou a tomar essa decisão?
LIANA – Sempre gostei do jornalismo, porque me possibilitava conhecer muitas pessoas e mundos diferentes, mas a dança é a forma com a qual mais consigo me expressar. Percebi que estava virando uma pessoa triste e apagada sem dançar, porque veiculo minhas ideias a partir do corpo.

JC – Mais pelo corpo do que pela palavra?
LIANA –
A palavra também é forte para mim. Tanto que uso uma poesia no meu solo mais recente, Topografias do feminino. Mas acho que não desenvolvi tanto esse lado por acreditar que a mulher é muito reprimida. No balé clássico se exige que a mulher seja certinha, e estudei em colégio católico. Por ter tantos lugares de repressão da fala, busquei no corpo essa possibilidade de expressão.

JC – Além de bailarina, você é pesquisadora do Acervo RecorDança, que resgata a memória da atividade em Pernambuco. O que mais?
LIANA –
Tem também meu lado ativista. Sou coordenadora do Movimento Dança Recife, uma associação de artistas que discute políticas públicas para a dança e cobra ações dos órgãos públicos. Quando voltei ao Recife, decidi que se o mundo não estivesse preparado para o que eu queria fazer, eu ia ter que prepará-lo. Ia fazer minha parte para que as pessoas possam viver de dança com dignidade.

JC – E fora dos palcos, gosta de dançar?
LIANA –
Sou boêmia e adoro a vida noturna, mas prefiro sentar numa mesa de bar e conversar sobre coisas não relacionadas à dança. Quando me chamam para dançar, eu digo: “Mas eu passo a semana dançando!”.

JC – Alguma coisa lhe angustia?
LIANA –
Tenho medo da velhice. O tempo é muito bom para o amadurecimento, mas sempre fui muito autônoma e tenho medo de ficar dependente dos outros.

JC – Curte viver no Recife?
LIANA –
Muito. Descobri que o caos dessa cidade me move, me deixa em estado de criação. Vivi boa parte da minha vida em Piedade e Boa Viagem e amo o mar, mas agora estou adorando morar no Centro, porque faço tudo andando. Sou muito urbana.

JC – E viajar?
LIANA –
Já fiz intercâmbio, passei um tempo no Canadá e viajei pelo Brasil dançando. Mas quando fiz estágio no Movimento Tortura Nunca Mais, na época da faculdade, visitei muitas comunidades em Pernambuco e percebi que não preciso ir longe para ver outras realidades. Acho uma delícia viajar, mas se colocar em outros lugares na sua própria cidade já é um grande aprendizado.

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