Decoração

Para comer com os olhos

Proprietários de restaurantes imprimem um toque pessoal na ambientação das casas, que ganham doses de originalidade, requinte e aconchego

Manuella Antunes
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Manuella Antunes
Publicado em 13/10/2012 às 10:32
Ricarod B. Labastier/JC Imagem
FOTO: Ricarod B. Labastier/JC Imagem
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Painel de teclas de piano compõe ambiente do Mingus, que escolheu o mundo do jazz como tema -
Fotografias gigantes dos mestres do jazz estão espalhadas no Mingus -
Estrelas consagradas do jazz estão imortalizadas em fotos no Mingus -
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Beijupirá de Olinda fez da beleza natural à sua volta uma aliada - Ricarod B. Labastier/JC Imagem
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Lustre encoberto com rede de pescador do Beijupirá de Olinda é superoriginal e lindo - Ricarod B. Labastier/JC Imagem
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Beijupirá privilegia a paisagem olindense - Ricarod B. Labastier/JC Imagem
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Porta-guardanapos em forma de peixinhos, ícone do Beijupirá, enfeitam a mesa - Ricarod B. Labastier/JC Imagem
Tio Pepe prima na originalidade de sua decoração -
Detalhes mimosos tornam o Tio Pepe um lugar muito especial -
Tio Pepe reúne um sem-número de boas ideias da restauratrice Mirtes Garrido -
O Ponte Nova traduz clima dos bistrôs parisienses do início do século 20 -
Porta-retratos com fotos antigas na entrada imprimem charme extra ao Ponte Nova -
Jardim de inverno do Ponte Nova dá leveza ao ambiente, que se torna ainda mais romântico -

“Sempre que me perguntam quem é o decorador daqui do Tio Pepe, eu digo que é o tempo. Não se cria uma casa dessas do dia para a noite.” É assim que a restauratrice Mirtes Garrido apresenta o espaço que cuida há 48 anos. Funcionando numa casa dos anos 1940 na Rua Almirante Tamandaré, em Setúbal, o cantinho é a casa de Dona Pepa, a boneca de pano que recepciona os visitantes. Entrar lá é fazer um passeio pelo mundo da criatividade e das (boas) ideias.

Mirtes, além de gerir o estabelecimento, é também quem põe a mão na massa para deixar o espaço sempre belo. “Aqui moemos o juízo para ter boas ideias. Com qualquer objeto podemos decorar lindamente, o segredo é ‘descondicionar’ o olhar e a mente.”

A construção, que até hoje mantém a fachada original, ganhou cor com a chegada do Tio Pepe. Vestiu-se de vermelho. Na área externa, árvores frondosas servem de morada para araras e borboletas. O muro exibe arcos, plantas e cortinas de cristais. “Estou sempre modificando as cortinas. Gosto de mudar quando começo a me cansar de ver aquilo todo dia.”

O restaurante também tem um circo. “Nosso próprio Cirque du Soleil.” Fica no ambiente lateral. Próximo do cantinho das crianças. As peças penduradas no teto são da artista plástica Maria Cândida. “É um circo muito especial. Ainda preciso decidir o nome que ele vai receber.”

Mas os encantos do Tio Pepe não ficam do terraço para fora. No salão interno, a alquimia – a mesma que, segundo Mirtes, está nas comidas – marca presença. Imagens religiosas, peças de arte popular e artefatos de cozinha se juntam harmonicamente sob e sobre os belos móveis antigos que arrematam o lugar. Algumas dessas peças Mirtes ganhou de presente. “Um ex-garçom aqui da casa, certa vez, ia se desfazer de uma cristaleira de madeira. Perguntou se eu queria, claro que quis.”

E o que não chegou por lá através do carinho dos amigos, acabou indo porque, de certa forma, acariciaram os olhos da dona. O Tio Pepe é resultado de mais de quatro décadas de garimpo. No salão interno, uma coisa chama atenção: uma cama funciona como mesa. “Este aqui é nosso quarto. As pessoas vêm e comem na cama, sem pressa.” Na cabeceira, um travesseiro com os dizeres que traduzem o clima de aconchego do restaurante: “Não somos fast-food, somos slow-food. Portanto, deite e role”.

Com uma proposta de decoração completamente diferente, mas não menos encantadora, se destaca o Nez Bistrô de Boa Viagem. Por lá, quem dá as ordens é o glamour. O engraçado é que quem passa na Rua Amazonas não imagina que ali, no número 40, onde já funcionaram dois outros restaurantes, existe um espaço que faz os visitantes se sentirem em um mundo mais teatral, lembrando o clima do filme Moulin Rouge. Isso porque a fachada, de ladrilho hidráulico, agrega à área externa do restaurante um clima boêmio. Quase praiano.


Lá dentro, por outro lado, a conversa é outra. Passando pela porta de entrada, o cliente escolhe se quer ir para o bar (lindo de viver!) ou se prefere dar uma olhada na loja de vinhos Zahil. Quem ficar no bar vai ver os ladrilhos se misturando com um lustre supermoderno. A fusão funciona. E a ideia do bar praiano, que pode ter surgido lá fora, se desfaz.


O salão principal, separado do lounge por uma cortina vermelha, tem formato retangular. As paredes de ambos os lados são uma atração à parte. À esquerda de quem entra, tijolos descascados recebem uma janela antiga e vários espelhos garimpados pelos donos. À direita, a parede recebe um mural do designer pernambucano Pedro Melo, que usou os cinco sentidos como mote.


“Participamos de todo o processo de concepção do restaurante com a arquiteta Juliana Monteiro. A reforma, que modificou tudo na casa, durou cerca de 10 meses. A ideia foi trazer alguns traços do Nez, de Casa Forte, para cá, como a própria parede de espelhos, que também existe lá”, contou a empresária Mônica Tenório de Mello.
Outra forma de fazer essa ligação foi usar grades com aparência de enferrujadas (que também já enfeitam a unidade da Zona Norte) no final do salão principal. Funcionam para dividir o ambiente, dão um ar mais dramático ao estabelecimento e deixam a entrada do salão menor e dos banheiros muito mais interessante.


A verdade é que a decoração do Nez Bistrô, além de se destacar pelo requinte, bom gosto e glamour, ganha também nos detalhes. Toda a sinalização do local faz referência às grades usadas no projeto arquitetônico. Além disso, uma cristaleira antiga enorme e mesas feitas a partir de caixas de vinho arrematam o segundo salão, que ainda conta com uma parede dos mesmos ladrilhos usados no bar e no terraço.


Pertinho dali, na Rua Atlântico, é a música que dita os detalhes do projeto do Mingus Cozinha Contemporânea. Sob o aval da arquiteta Glauce Botelho, a decoração do restaurante foi inspirada no contrabaixista Charles Mingus, portanto, tem no jazz, a grande paixão do proprietário Nicola Sultanum, que também é músico.


Numa pegada mais clean, o Mingus conta com objetos garimpados de antiquários em São Paulo e no exterior. As peças estão nas paredes, ao lado das fotografias de Piazzolla, Charles Mingus, Tom Jobim, Chet Baker.
Uma particularidade do projeto do restaurante de Nicola é a pintura de teclas de piano que formam um painel em toda a extensão da parede do salão de entrada do Mingus. Um piano de cauda, no piso, e um bandoneón, suspenso no teto, são outros elementos que impressionam quem chega no lugar. Sem falar nas luminárias assinadas por Kilder Menezes.


ZONA NORTE
Foi na Rua do Cupim, nos Aflitos, que o chef Joca Pontes deu vida ao Ponte Nova. “Queríamos trazer o clima dos bistrôs parisienses de antigamente e aliar isso com traços da arquitetura do Recife na década de 50. A busca era por algo aconchegante sem ser trivial. Moderno sem ser careta”, conta Joca.


Durante a concepção do projeto, houve a preocupação de aproveitar a estrutura já existente. A fachada foi mantida, bem como parte do piso. “O mármore branco do lounge de entrada é original.” E se a inspiração veio da Cidade Luz, os traços de art nouveau não poderiam faltar. No salão, percebe-se claramente o uso de arcos no alto. “É para dar a sensação de estar entrando em um tubo. Tudo por aqui é bem arredondado.”


Um capítulo à parte no Ponte Nova é o ambiente que recepciona os clientes. O espaço é um sala de estar retrô. Os porta-retratos com fotos antigas são o ponto alto. Dar uma espiada é fazer uma viagem no tempo. Para quebrar os tons claros, o projeto apostou em um jardim de inverno. Funcionou. O verde imprime ainda mais carisma ao espaço.


E enquanto nos Aflitos o aconchego vem do clima parisiense, em Olinda, na Rua Saldanha Marinho, é a cultura popular de Pernambuco a grande responsável pelo charme do Beijupirá. Além, claro, da pitada de beleza que a natureza deixou por lá. “Não podíamos competir com a riqueza natural que temos aqui. Por isso que a decoração não é carregada. A opção foi ter um espaço mais clean mesmo. Muito mais do que, por exemplo, a unidade de Porto de Galinhas,” conta o sócio João Didier.


O Beijupirá é um grande exemplo de como os detalhes fazem (toda) a diferença. Estruturalmente, não há nada de novo ou colorido. No entanto, os elementos decorativos trazem o que falta. Cores que se harmonizam com o verde que cerca o restaurante.


Garrafinhas com flores e porta-guardanapos trabalhados com mosaicos dividem o espaço em cima das mesas com os porta-talheres tradicionais da rede Beijupirá: os peixinhos de tecido. “Essas características estão presentes em nos nosso restaurantes, mas cada um acaba tendo sua particularidade.”


Para conferir ainda mais vida ao Beiju, o projeto ganhou uma peça (que ocupa quase toda a extensão da parede) do artista plástico olindense Tarcísio Andrade. Como não poderia deixar de ser, o trabalho é uma homenagem ao aspecto mais forte da cultura da cidade: o Carnaval. É assim que personagens míticos, como o Homem da Meia-Noite e a La Ursa, marcam presença por lá.


João faz questão de frisar a participação forte que ele e os outros dois sócios, Adriana Didier e Kleber Dantas, tiveram na criação do espaço. E a confirmação vem assim que ele fala do projeto de iluminação do espaço. O lustre, que originalmente seria apenas de madeira com pátina branca, foi enrolado numa rede de pescadores e ainda ganhou pisca-piscas. “Ideia de Adriana”, lembra João. Ponto para o Beiju.

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