Perfil/Silvia da Fonte

Ela conhece o caminho das pedras

Há 25 anos, designer é sinônimo de criatividade e talento quando o assunto é joias

Bruna Cabral
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Bruna Cabral
Publicado em 07/01/2013 às 15:04
Rafa Medeiros/JC Imagem
Há 25 anos, designer é sinônimo de criatividade e talento quando o assunto é joias - FOTO: Rafa Medeiros/JC Imagem
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Quando ninguém fazia ideia do que vinha a ser ametista, turmalina ou granada, a visionária Silvia da Fonte já enxergava o valor desses minerais. Por conta própria, pesquisou, tentou e errou um bocado até conseguir associar irrevogavelmente o conceito de joia à prata e às pedras brasileiras. Resultado: foi uma das desbravadoras de um nicho de mercado que só faz crescer desde a década de 1980. “Antes, só diamantes e rubis eram admirados e respeitados. Hoje em dia, as pessoas valorizam muito o design e até materiais alternativos como borracha e plástico”, conta Silvia, que, aos 65 anos, não mudou em nada sua filosofia de trabalho: só gosta de desfio se for dos grandes.

O próximo, avisa, é conquistar o mundo. Conhecida e respeitada pelas recifenses mais vaidosas há exatos 25 anos, ela diz que sua meta agora são os mercados nacional e internacional. A estratégia, traçada em parceira com sua recém-empossada sócia, Paula da Fonte de Freitas, que veio dar “volume” ao negócio, começou pelas praças de Natal, Paraíba e Maceió. E, se tudo der certo, não para mais. “Daremos um passo de cada vez”, diz Silvia, com a cautela típica de quem conhece de cátedra os bastidores da criação. “Para qualquer trabalho artesanal, a mão de obra anda escassa.”

Atualmente, ela conta com quatro profissionais gabaritados em sua oficina, localizada no bairro de Boa Viagem, e produz uma média de 60 a 70 peças por mês. Lança pelo menos duas coleções por ano: uma entre abril e maio, e outra no final do ano. Mas faz questão de manter sempre as peças hors-concours nas prateleiras. “Nunca abandono minhas coleções.”

Mudam os temas e as formas, mas da prata ela não abre mão. “Admiro a cor desse metal. Gosto também de peças com volume. E, em ouro, elas ficariam inviáveis.” Além de não chamar tanto a atenção de invejosos e mal intencionados em geral, a prata, garante, é eterna. “Basta saber cuidar dela, armazenando com cuidado e limpando com produtos adequados.”

Das pedras, a empreendedora que estudou pedagogia e letras antes de render definitivamente à missão de embelezar pescoços, mãos e braços alheios, diz que são duas as suas prediletas: a brasilita e o topázio incolor. “Essas pedras têm muito brilho quando lapidadas adequadamente”, diz a designer que faz questão de cuidar sozinha da concepção de suas peças. “Eu desenho e meus braços direitos executam”, brinca. Entre uma e outra peça célebre, Silvia já usou flores, folhas, chifre, couro, argila e até pé de galinha em suas coleções. Mas admite que é das pedras que as clientes gostam mais.

“Joias têm e sempre terão o peso de uma tradição”, sentencia Silvia, que diz ter assistido de camarote a uma profunda transformação das mulheres nas últimas décadas. “Ainda recebo clientes que trazem suas filhas e depois suas netas para celebrar com uma joia os momentos de vida marcantes. Mas também tem muita jovem que não espera nem por marido, nem por mãe: vem sozinha e decide tudo que vai usar em seu casamento. Ou, simplesmente, se dá de presente um belo anel, em vez de ficar esperando que seu marido tome a iniciativa, como era de praxe antigamente.”

As noivas, aliás, são um dos principais nichos de mercado atendidos por Silvia, Paula e seus ourives. “Já criamos mais de 400 tiaras diferentes, com ou sem pedras.” Algumas são feitas sob encomenda. Outras, ficam disponíveis para aluguel. Mas Silvia faz questão de sempre mudar um ou outro detalhe da peça para que ela pareça única em cada momento que ajuda a abrilhantar.

Especialista em fazer cintilar, Silvia é a personificação do dito popular casa de ferreiro espeto de pau. “Passo dias sem mudar o brinco. E não guardo nenhuma das minhas peças para mim.” Ela cria para o mundo.

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