PERSONA

O jardim de Jura

Cineasta pernambucano conta por que escolheu o nome do bairro onde nasceu para o seu próximo filme

Bruno Albertim
Cadastrado por
Bruno Albertim
Publicado em 21/01/2013 às 14:43
Igo Bione/JC Imagem
Cineasta pernambucano conta por que escolheu o nome do bairro onde nasceu para o seu próximo filme - FOTO: Igo Bione/JC Imagem
Leitura:

Logo após o Carnaval, o cineasta Jura Capela, 35 anos, lança um longa que traz no título o bairro onde viveu antes de se mudar para o Sudeste. “O Brasil é um grande jardim atlântico”, diz ele, que também dirige o trailer musical que traz Céu, Pupilo e Ava Rocha. Jura também falou com Bruno Albertim sobre semelhanças e diferenças entre Olinda, Recife e Rio.

JC - Jardim Atlântico é o nome do seu filme e do bairro onde você passou a adolescência. Por quê?

JURA CAPELA – Morei lá desde criança. Sempre achei muito bonito o nome. Quando tive a ideia do filme, quis homenagear o Brasil, o nosso jardim atlântico.

JC – Você é um observador de comportamentos. O que o inspira mais: o Rio onde vive ou o Recife e a Olinda de onde veio?

JURA – A minha maior inspiração é ser nacionalista, transitar por essas cidades que tanto me fascinam. Poder me observar nelas e desenvolver uma linguagem cinematográfica extremamente brasileira, saber da sorte de poder viver entre essas cidades o ano inteiro, contracenando com suas igualdades e diferenças.

JC – O que há de mais carioca no pernambucano e de pernambucano no carioca?

JURA – O que liga o carioca ao pernambucano é o mar, o litoral, os costumes praianos, o mistério profundo... E sermos tradicionalistas, torcemos para o desenvolvimento do Brasil.

JC – O lugar de onde viemos é um vaticínio: ou seja, nos acompanha para sempre aonde vamos?

JURA - A cidade de Olinda foi o que me deu régua e compasso. Lá sempre vão estar minhas bases de identificação como indivíduo. O pernambucano, por mais tradicional que seja, é um cosmopolita, é aquele para quem todos os cantos do planeta são a sua pátria. Deve ser por isso que sempre seremos chamados de “o cineasta pernambucano”.

JC – Que lugar do Recife ou de Olinda é especialmente inspirador para você?

JURA - Olinda é um lugar que exala arte. Andar pelas ladeiras é como caminhar no imaginário de um tempo passado. Como um transeunte sem destino, entre uma ladeira e outra, acabava passando por ateliês e espaços de arte, como o Três Galeras, na Sé; os domingos no Mercado da Ribeira, na Rua de São Bento, no Bar Esperança. E, ali embaixo, na Praia dos Milagres, o estrondoso Molusco Lama, onde fiz minhas melhores amizades e onde formamos o grupo Telephone Colorido.

JC – E do Rio?

JURA – O Jardim Botânico me dá equilíbrio. É onde vou para pensar melhor. Sinto falta, no Recife e em Olinda, da presença de mais verde.

JC – O que há de pior no caráter pernambucano?

JURA – Os pernambucanos têm severas críticas sobre a arte e a vida pessoal das outras pessoas. Escutei uma frase do artista plástico Marcio Almeida que diz: “Recife é uma cidade proparoxítona, vai de ótimo ao péssimo em questão de segundos”.

JC –E do carioca?

JURA - Nós somos democráticos e socialmente afetados e isso nos possibilita saber com quem estamos lidando. Já o carioca, não dá muito para ver quem é. Ele é socialmente comedido e um tanto extravagante.

Últimas notícias