Certas coisas nunca mudam. Ou melhor, até mudam, mas em tempo, não em conceito. Em 5 fevereiro de 1953 – há quase exatos 60 anos – Luiz Gonzaga entrava em estúdio para gravar O xote das meninas, parceria dele com Zé Dantas. Na letra, o Rei do Baião descreve uma garota entrando na puberdade como um “mandacaru quando fulora na seca” e segue cantando: “Meia comprida/ não quer mais sapato baixo/ vestido bem cintado/ não quer mais vestir timão”. Preocupado, o “pai leva ao dotô” a menina que “de manhã cedo já tá pintada”, hábito pra lá de ousado na a época.
Nesses 60 anos, o que mudou é que essa “manhã” está chegando cada vez mais cedo. Com 4 anos de idade, Alícia, filha da operadora de telemarketing Camila Santos, também só quer “estar pintada”. “Desde muito pequena, ela se mostra muito vaidosa. Pede para usar blush, sombra e batom”, conta a mãe. Camila não aprova, mas tenta satisfazer os desejos da filha na medida do possível. “De vez em quando, ela ganha maquiagens para criança. Sempre verifico se o material é antialérgico e apropriado para a idade dela, e tento não encorajá-la. Mas como ela me vê usando maquiagem para trabalhar todos os dias, acaba influenciada”, afirma.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável pelo registro de produtos cosméticos, incluindo os infantis, realiza periodicamente uma análise técnica nesses artigos. É verificada a conformidade dos itens com a legislação sanitária vigente, incluindo a análise da segurança do produto e os dizeres na rotulagem.
“As crianças devem utilizar apenas produtos infantis, pois são elaborados de forma a manter as características da pele da criança. Alguns produtos são dermatologicamente testados ou hipoalergênicos. Isso significa que foram testados sob o controle de médicos dermatologistas, o que reduz o risco de surgimento de alergia”, informa o comunicado oficial divulgado pela agência.
A luta de muitas mães para convencerem as filhas de não usar a maquiagem de adulto é grande. “Mesmo ela tendo a maquiagem dela, Alícia sempre pede para usar os meus produtos”, conta Camila. “A gente tem que conversar e explicar direitinho por que não pode fazer isso. Ainda assim, um dia eu cochilei e acordei toda pintada por ela”, lembra.
A fisioterapeuta Márcia Nascimento não vê problemas na curiosidade da pequena Luisa, 3, em relação à sua nécessaire, mas tenta manter as mãozinhas dela longe dos cosméticos. “Às vezes, quando preciso ir ao salão e não tem ninguém que possa ficar com ela, acabo levando-a junto. Ela faz um penteado simples e coloca um esmalte bem clarinho, o que a deixa superfeliz. Mas tiro logo depois”, conta Márcia. De acordo com a Anvisa, esmaltes permitidos para crianças são aqueles à base de água e que saem sem necessidade do uso de acetona ou removedor.
Leia mais na edição deste domingo da revista Arrecifes
