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sexo@cidade: Não dou munição a bandido

Ressentimento é terreno fértil para palavras impensadas. Eu já as disse, você também

Flávia de Gusmão
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Flávia de Gusmão
Publicado em 02/12/2013 às 11:44
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Ressentimento é terreno fértil para palavras impensadas. Eu já as disse, você também. E se a gente fosse fazer a matemática bem certinha sou capaz de apostar que a conta fechava para o nosso lado. Sim, na maior parte das vezes em que nos sentimos magoados o fomos, de fato e de direito. De uma simples rejeição a um abandono lento e gradual com requintes de sadismo. Mas se tem uma coisa que eu aprendi na vida foi a neutralizar a força que o outro exerce sobre mim. Tão maior é o efeito devastador de uma desfeita quanto maior for a importância que damos a quem a cometeu. Ele cresce em proporções à medida que o tornamos público, incontrolável e espetacular.
Aprendi a viver meu luto à moda inglesa: contido, para dentro, longe dos olhares curiosos, com dignidade. Nesse processo doloroso de aprendizado baseado em problemas constatei que existem pessoas que fazem coisas maravilhosas e pessoas que fazem coisas péssimas. E, pra confundir ainda mais a nossa cabeça, ainda há aquelas criaturas que uma hora fazem uma coisa que resgata a nossa fé no meu querido pônei para, no minuto seguinte, agir como o gigante que espezinha o país dos contos de fada. Pessoas que parecem ter como único propósito na vida abalar o fio de equilíbrio que levamos anos para tecer. Elas arrastam nossa teia de sentimentos bem arrumadinhos como se fossem zelosas donas de casa, de vassoura em punho, desalojando a aranha.

Cada um reage como pode. Já vi gente calma perder as estribeiras, meter o dedo da cara, chorar, arranhar e se descabelar em público. Já presenciei murro na cara, vidros estraçalhados com pedradas, os quatro pneus do carro arriados, numa metáfora inevitável da própria condição de quem assim procede: no chão. Em todas as situações pude curiosamente constatar, pelo canto do olho, que quem mais se comprazia com tudo isso era o próprio covarde. Ele se julga o herói: conquistou e tem alguém a seus pés que dá à plateia, ou seja, todos aqueles que o cercam, um testemunho em carne viva e alma lanhada do gostoso que ele é.

Outro dia, andando pela rua, ouvi de raspão a frase, de um homem dizendo a outro: “Rapá, eu não teria coragem de fazer uma covardia dessas”. Essa é a única conclusão a que o serial killer de sentimentos chega. “Até para ser covarde tem que ter coragem”, donde conclui: “Ele é um corajoso”. Eu, por mim, não botaria ninguém no Lulu, não o difamaria para metade da cidade, não daria baile em frente à sua casa, não promoveria caluniosos (ou verdadeiros) telefonemas anônimos. Apenas colocaria as emoções negativas despertadas, bem repicadinhas, no fundo da gaveta, no mais fundo do armário. Esperaria passar e seguiria adiante. Não dou munição a bandido.

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