Diário de Baco

Pioneirismo é ingrediente que não falta na vinicultura

Atos de rebeldia foram responsáveis por mudar a trajetória das empresas do setor no País

Flávia de Gusmão
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Flávia de Gusmão
Publicado em 02/03/2012 às 18:24
Ibravin/Divulgação
Atos de rebeldia foram responsáveis por mudar a trajetória das empresas do setor no País - FOTO: Ibravin/Divulgação
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A história da vitivinicultura no Brasil é feita, principalmente, de pioneirismo e coragem. Corre como verdadeira – com a devida confirmação da família – que os filhos do vigoroso patriarca Benildo Perini, neto do imigrante Giuseppe, aquele que trouxe da Itália o cultivo das uvas para transformá-las em vinho, aproveitaram uma viagem do pai para literalmente pôr abaixo os velhos vinhedos em latada (que formam uma espécie de caramanchão) para substituí-los pela moderna técnica da espaldeira em Y, na qual as parreiras correm em linhas retas verticais, permitindo uma distribuição mais uniforme da luz solar.

Antes desse ato de rebeldia empresarial – que foi ou está sendo implantado por todos aqueles que almejam pertencer ao seleto clube dos vinhos finos de qualidade – o próprio Benildo provou que cada geração tem a sua cota de inovação a fornecer. Nos anos 1970, coube a ele, engarrafando seu vinho com a marca Jota Pe em homenagem ao seu pai João Perini, iniciar a transformação do pequeno empreendimento familiar numa empresa que produz dois milhões de litros de vinhos finos por ano.

A meta de crescimento da empresa para 2012 é de 30%. “Em 2011, a Perini cresceu 23%. Queremos avançar mais este ano”, revela Márcio Bonilha, gerente nacional de vendas. O reforço do trabalho no Nordeste, especialmente no Recife, faz parte da estratégia de crescimento da Perini”, revela.

MIOLO

A Miolo traz em sua história um capítulo considerável sobre arrojo. Nele, muita coisa foi escrita desde a reconversão completa dos vinhedos, feita gradativamente a partir de 1996. A começar pela eliminação de técnicas ultrapassadas como a chaptalização (adição de açúcar), substituída pelo processo de concentração de mosto, passando pela expansão para outros terroirs brasileiros, como o Vale do São Francisco (Projeto Ouro Verde), em 2000, e, logo no ano seguinte, para a Campanha Gaúcha com o Projeto Fortaleza do Seival.

Em 2009, a marcha forçada rumo à expansão culminou com a reformatação da empresa, que assumiu o nome de Miolo Wine Group, estabelecendo parcerias com outras nacionalidades, de olho no mercado estrangeiro. Hoje, a Miolo tem na lista dos vinhos mais exportados de 2011 o Alísios, inteiramente desenvolvido para o mercado inglês, tanto o conteúdo (Pinot Grigio/Riesling) quanto o rótulo, e ocupa o primeiro lugar do ranking das empresas brasileiras que mais vendem lá fora.

A cada passo dado em direção ao futuro que construiu para a empresa da família, o enólogo Adriano Miolo deixa como marcos pelo caminho vinhos que têm um curioso valor afetivo. Entre os mais simbólicos está o Lote 43. Este vinho foi elaborado como forma de homenagear o “nonno” Giuseppe, que saiu da Itália no fim do século 19, em busca de boas oportunidades de trabalho no Brasil, e entregou suas economias em troca de um pedaço de terra no Vale dos Vinhedos, o chamado Lote 43.

Elaborado com as variedade Cabernet Sauvigon e Merlot, o Lote 43 é vinificado apenas em safras especiais. Até agora, mereceram a distinção os anos 1999, 2002, 2004, 2005, 2008 e 2011 (ainda para ser lançado). Coube a ele, ainda, a primazia de ter inaugurado a o sistema de venda exclusivamente online, numa época em que o setor ainda engatinhava na internet.

VALDUGA

Pode-se dizer que, desde sempre, a Valduga escolheu o caminho menos óbvio. A decisão do empresário Luiz Valduga, na década de 70, de produzir em menos quantidade, e vinhos mais bem-elaborados, repercute ainda hoje. Uma das estratégias da empresa foi segmentar a venda dos vinhos apenas em restaurantes e lojas especializada. “Sem disputar espaço nas gôndolas de supermercados, tivemos condição de reduzir a escala, trabalhar com um valor um pouco acima do mercado e investir muito em tecnologia”, explica o gerente de marketing da Valduga, Fabiano Olbrisch.

Ele não esconde que, na sua empresa, há uma busca frenética pela melhoria dos vinhos. “João Valduga (diretor e enólogo-chefe) e Daniel Dallavalle (eleito enólogo do ano pela Associação Brasileira de Enologia, responsável pelos vinhos Valduga) fazem frequentes intercâmbios e pesquisam o que há de mais moderno no mundo do vinho. Se este ou aquele equipamento for indispensável e adequado ao nosso terroir não são medidos esforços nem valores para termos a tecnologia de ponta”, assegura Olbrisch.

Uma materialização das aspas acima já trabalha laboriosamente nas instalações da Valduga: a selecionadora óptica de grãos arranca um suspiro do “patrão” João Valduga ao responder sobre valores: “Uma máquina em torno de um milhão de reais”. “Coisa de cinema” confirma Olbrisch, sobre a máquina que desempenha em uma hora o que dez homens levariam um dia inteiro para realizar.

Após o desengace mecânico (retirada dos talos), um software se encarrega de identificar os grãos defeituosos para que possam ser descartados. No baú tecnológico da Valduga tem mais coisa ainda: “Há três anos foi adquirida uma prensa isobárica: excelente, principalmente para brancos e espumantes, pois a prensagem é feita sem o contato com oxigênio e assim não há a oxidação no período mais crítico.

Outra tecnologia muito custosa é utilizada no vinhedo, com vistas a uma agricultura de precisão. “Temos mapeado cada coluna de quase todos os vinhedos. Isso nos dá uma garantia de sempre obter o melhor grau de maturação para cada produto”, confirma Olbrich. Diante de tanto investimento vultoso, a implantação no rótulo de um QR Code (um código de barras que pode ser lido pelos celulares mais modernos) parece coisa de menor importância.

“Mas não é”, assegura o gerente de marketing: “O custo é baixíssimo se comparado às outras tecnologias, mas é através dele que estou conseguindo comunicar alguns detalhes e diferenciais ao consumidor mais exigente e explorador”, resume.

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