gastronomia

Quando música e comida se completam

Música e cozinha se completam como feijão e arroz. Conheça algumas casas que confirmam a regra

Flávia de Gusmão
Cadastrado por
Flávia de Gusmão
Publicado em 07/12/2012 às 9:22
Foto: Rafa Medeiros/JC Imagem
Música e cozinha se completam como feijão e arroz. Conheça algumas casas que confirmam a regra - FOTO: Foto: Rafa Medeiros/JC Imagem
Leitura:

Quando chegou da Europa em 2000, Ronald Menezes trazia debaixo do braço um dos mais cobiçados diplomas que um jovem chef pode almejar: o do Instituto Paul Bocuse, em Lyon, na França. Com ele vinha também a ideia de revolucionar a incipiente alta gastronomia pernambucana, que terminava os anos 1990 com todo o gás, uma declarada francofilia e o espírito foodie da época, aquele que preconizava estar na comida um prazer até então só alcançado pelo ato sexual. Não só falava-se o tempo todo em alimentos, como fotografava-se, trocavam-se receitas, traçavam-se roteiros de viagens gourmets.

Sob esta aura nascia o Yolanda, primeiro restaurante montado por um Ronald entusiasta e cabeça nas nuvens. A trilha escolhida para embalar os comensais era aquela que está em qualquer cartilha de “como abrir um restaurante classe A”. Manjares sonoros para acompanhar ingredientes finíssimos como foie gras e trufas, uma espécie de pano de fundo musical que não se sobrepunha ao que era servido, em vez disso, complementava a experiência de pertencimento a um modo muito especial de viver.

Anos depois, quem fala é o empresário Ronald Menezes, que abafou o projeto inicial e em seu lugar construiu o Manhattan, invertendo a ordem de prioridades: o foco da casa está na música, não mais na cozinha, embora por trás do empreendimento viva imorredoura a alma de um chef preparado e talentoso. “Ainda hoje as pessoas me perguntam a razão de ter deixado a alta gastronomia e seguido com um restaurante onde a música é o centro das atenções”, concorda Ronald.

Embora tenha saudade de todos aqueles clientes que gostavam de passar a noite conversando, trocando receitas, falando dos pratos e degustando um bom vinho, o empresário confessa que se decepcionou com o antiglamour, nos moldes de chef-patrão que atravessa o salão como se fosse uma divindade, e se rendeu aos frios números do livro-caixa. E, nele, a música foi a salvação. “Você começa a pensar no que fazer quando, mesmo que suas receitas sejam dos deuses, o público desaparece de uma hora para outra e ficam os clientes fiéis da casa, os mais assíduos, mas que somente conseguem lotar o restaurante nos fins de semana. Aí é que tudo afunda! O sonho da alta gastronomia dá espaço à sobrevivência, trazendo as consultorias e fazendo com que você fique fora de seu restaurante, gerando uma bola de neve. Dessa forma, pensamos em algo diferente que possibilitasse sobreviver dignamente, tendo um público diferente a cada noite”, revela.

Com um trabalho desdenhado no início, ele foi construindo o que é hoje um dos poucos redutos intimistas para artistas de alto calibre de audiência, embora na maioria das vezes essa popularidade não se reflita em execuções em rádio. Passaram pelo pequeno palco do Manhattan nomes do calibre de Alcione, Jerry Adriani, Elymar Santos, Lady Zu, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Moacir Franco, Agnaldo Timóteo, e a lista continua. “O Manhattan tem a proposta de aliar uma música de qualidade a uma boa gastronomia de bistrô. Pode-se degustar um ótimo steak au poivre, um magret com frutas vermelhas ou um escalope de filé com risoto de gorgonzola e pera, ouvindo-se uma boa música com a opção de dançar a noite inteira”, resume.

Leia mais sobre o tema na versão impressa do Boa Mesa desta sexta (7).

 

Últimas notícias