Ensaio Fotográfico

A luta de cada dia

Em homenagem ao Dia do Trabalhador, na próxima quinta-feira, O JC Mais traz um ensaio sobre esses homens e mulheres que com seu suor movem a econ.mia do Estado

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 27/04/2014 às 11:27
Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Comerciante, no Mercado de São José - Recife - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Comerciante, no Mercado de São José - Recife - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Comerciante, no Mercado de São José - Recife - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Comerciante, no Mercado de São José - Recife - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Agricultor, Fazenda da Agrícola Famosa - Inajá (Serão) - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Colorista, no Portomídia - Porto Digital - Recife - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Soldador naval - Estaleiro Promar - Porto de Suape - Ipojuca - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Soldador naval - Estaleiro Promar - Porto de Suape - Ipojuca - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Soldador naval - Estaleiro Promar - Porto de Suape - Ipojuca - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Garçonete, no Restaurante Rui Paula - RioMar Recife - Pina - Recife - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Chefs, no Restaurante Rui Paula - RioMar Recife - Pina - Recife - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Operadores de Call Center, na Datamétrica - Olinda - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Serralheira, na obra do Beach Class Convention & Flats da Moura Dubeux, em Boa Viagem - Recife - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Técnicas em triagem de plasma, na Fábrica da Hemobrás - Goiana (Mata Norte) - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
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Técnico em funilaria, na Fábrica da Fiat - Goiana (Mata Norte) - Foto: Heudes Regis/JC Imagem

 

 

Quem circula no Mercado de São José se embrenha pela história do comércio no Recife. Quinquilharias que vão do artesanato ao peixe, das ervas milagrosas aos produtos religiosos remetem à nossa tradição mascate, herdada dos portugueses. Prestes a completar 140 anos em 2015, o Mercado abre o ensaio em preto e branco do fotógrafo Heudes Regis. A narrativa iconográfica traz fragmentos do vasto mundo do trabalho em Pernambuco, usando como pano de fundo a trajetória econômica do Estado. 
Num mundo saturado de informações, a opção pela fotografia em preto e branco é um convite à imaginação do leitor, um desafio a resignificar o que vê. Durante três semanas, o repórter-fotográfico transitou entre profissionais dos setores de serviço, indústria e agropecuária. Pelas lentes de sua Canon 7D captou imagens de trabalhadores de atividades que se perpetuam, de outras que se modernizam e de outras ainda estreantes na nossa matriz econômica. Foram mais de 2.000 cliques para selecionar dez imagens. 

Com ar de guerreiro medieval, o soldador aparece na sua indumentária de raspa de couro e máscara. Empunhando um porta-eletrodo, que cospe raios fumegantes de até 800ºC, funde chapas de aço que se transformam em navios. No município de Ipojuca (litoral Sul do Estado), as usinas deram lugar aos estaleiros. Das terras onde brotava cana-de-açúcar, agora zarpam grandes embarcações que vão singrar mares mundo afora, transportando combustíveis. 

No centro da capital pernambucana, a tradição mercantil do Porto do Recife divide espaço com outro ancoradouro: o Porto Digital. Celeiro da Economia Criativa do Estado, o espaço é povoado por “cabecinhas” nerd/geek que trabalham para inventar o futuro. Pendurados na paisagem vertical da cidade ou em terra-firme, os operários da construção civil se modernizam (junto com a atividade) para acompanhar as mudanças frenéticas da urbe (cada dia mais adensada). 

Adornados por seus microfones de orelha, operadores de telemarketing se multiplicam na velocidade com que a população compra seus telefones móveis, usa seu dinheiro de plástico, adquire seus planos de saúde e reclama seus direitos nos SACs. Praças de alimentação lotadas, bares e restaurantes são signos da correria cotidiana, que turbina o negócio de alimentação fora de casa e abre postos de trabalho no setor de serviços. A atividade, aliás, é comanda a economia do Estado, sendo responsável por mais de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco.

Em contraponto, a agropecuária vem perdendo participação econômica. A secular agroindústria açucareira, que sustentava o Estado desde os tempos da colônia, assiste ao fechamento de suas usinas. Terrenos são vendidos para abrigar indústrias ou investimentos imobiliários. A agricultura familiar continua refém dos caprichos do clima e de uma política de governo de convivência com a seca. O avanço vem da irrigação ou da descoberta de novas fronteiras agrícolas, como a produção de melão no município sertanejo de Inajá, região rica em água no subsolo. Enquanto os pescadores artesanais resistem para se manter na atividade, ante às agressões ambientais. 

Pelas bandas da Zona da Mata Norte, o trabalho rude da cana ganha a companhia de novas categorias profissionais. Usando roupas térmicas e encapuzadas para enfrentar uma temperatura de 5°C, técnicas em triagem de plasma humano trabalham na fábrica da Hemobrás, em Goiana. A empresa coloca o Brasil no mapa mundial da produção de medicamentos a partir de hemoderivados, que o País sempre precisou importar. Nas terras de Goiana também está a montadora da Fiat. Uma legião de 4.500 técnicos e engenheiros vão montar Jeep made in Pernambuco para competir no disputado mercado automotivo.

Os Estados Unidos foram o primeiro país a celebrar o 1º de maio, em 1886, depois de protestos de operários de Chicago, que brigavam por melhores condições de trabalho. No Brasil, a data começou a ser comemorada a partir de 1925, instituída pelo presidente Artur Bernardes. Entre conquistas e conflitos, não dá para negar que o mercado de trabalho no País evoluiu. Especialistas chegam a se surpreender com a mudança do cenário de subemprego dos anos 80 para os altos índices de trabalho com carteira assinada nos dias atuais. Em Pernambuco, o desemprego encolheu nos últimos dez anos, saindo de 23,1% em 2004 para 13% no ano passado (segundo dados do Dieese). Nesse intervalo, quase meio milhão de pessoas (451 mil) conseguiu alguma ocupação. Fica a reflexão de que, ao longo da história, a máxima do capitalismo cunhada pelo alemão Max Weber de que “o trabalho enobrece e dignifica o homem” agregou outras reivindicações não menos edificantes.

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