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O baú das meninas

As designers Bárbara Cunha e Carol Azevedo colocam à venda, hoje, em bazar, roupas e acessórios que fizeram parte do figurino de filmes

Allan Nascimento
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Allan Nascimento
Publicado em 06/07/2014 às 0:28
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
As designers Bárbara Cunha e Carol Azevedo colocam à venda, hoje, em bazar, roupas e acessórios que fizeram parte do figurino de filmes - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Figurino é tudo. Sempre foi. Não só no cinema, onde merece uma categoria no Oscar e em outras premiações, como também no teatro, na TV e na dança. Foi por esse caminho que Hubert James Taffin Givenchy se tornou um dos ícones mundiais da moda. Seus trajes recobriram o kit 81 cm de busto, 50,8 cm de cintura e 90 cm de quadril que formava Audrey Hepburn, em filmes hoje clássicos como Sabrina, Cinderela em Paris e Bonequinha de luxo – o longo preto que Holly usa em várias cenas ainda é referência – e encarnaram a elegância das personagens interpretadas pela atriz, valendo-lhe fama internacional. 

Em chiffon, com plissado na parte de baixo e busto drapeado, o vestido branco que deixava à mostra as costas de Marilyn Monroe em O pecado mora ao lado, de 1955, imaginado por William Travillano, foi outro que se tornou célebre. Tanto que dia desses foi leiloado por US$ 4,6 milhões. Além disso, a cena da saia esvoaçante se tornou uma das fotografias indispensáveis quando a imagem da atriz é evocada. 

O Recife, enquanto polo cinematográfico, também é terra de figurinistas, nomes de destaque na sétima arte nacional. Chris Garrido, nesta semana mesmo, foi mais uma vez premiada por Tatuagem, obra de Hilton Lacerda, onde assinou a seleção dos trajes. Ainda temos Andréa Monteiro, nome por trás do figurino de Amarelo manga, e Joana Gatis, de Baixio das bestas, para ficar em alguns nomes do cenário local. Completam o time da cena pernambucana, ainda, Bárbara Cunha e Carol Azevedo. São estas duas que hoje, no espaço Casamarela, arrastam suas malas e armam as araras para pôr à venda peças que garimparam ao longo de anos para compor seus acervos.

No bazar, que foi batizado de Baú Secreto, as duas vão disponibilizar para compra roupas que foram utilizadas em longas-metragens como Deserto feliz e País do desejo, e em curtas como Uma estrela para Ioiô. Hermila Guedes, Maria Padilha, Nash Laila, Zezé Mota, Fábio Assunção e Mariana Ximenes são só alguns dos atores que trajaram o material agora disponibilizado.

“Há 15 anos comecei a montar meu acervo, que teria peças para mim, para meu trabalho como figurinista e também para alugar para outros figurinistas. Algumas foram alugadas para filmes onde não assinei o figurino, como Tatuagem, por exemplo. É um acervo eclético, não é só focado em cinema. Com roupas utilizadas em publicidade também”, conta Carol, que foi bailarina e começou a atuar compondo o figurino para os espetáculos em que dançava (agora cuida das indumentárias de Big Jato, adaptação de Cláudio Assis para o livro homônimo de Xico Sá). 

“Sou filha de um cineasta cinéfilo e teórico em cinema, Paulo Cunha, que é professor de cinema na UFPE. Desde sempre estive imersa nesse universo, pelo qual alimento uma relação de amor. Mas não me imaginava trabalhando na área, estudava para ser designer. Mas foi inevitável”, conta Bárbara. “Eu tinha uns projetos em moda na faculdade quando o curso de moda não existia em Pernambuco, por volta de 1999/2000, e soube que o Claudio Assis estava fazendo um filme. Pedi para estagiar e rolou, meio que na sorte. Era o Amarelo manga. Foi uma estreia e tanto no cinema. A partir daí me apaixonei perdidamente”, relembra ela. 

Sobre inspiração, Bárbara elege sua filmografia: “Desde Chaplin até o Poderoso chefão, passando por Matrix e pelo recente Anna Karenina, o cinema faz parte da minha vida. A primeira vez que me vi reparando em figurino foi em Taxi driver, de Scorsese, e em Os sete samurais, de Kurosawa. Dos filmes de Fassbinder aos de Godard, meu olhar sempre corre para o figurino. Tenho um olhar que aprecia o belo, o delicado, mas o feio e o incômodo me atraem também. Sou muito apaixonada pela estética do Wong Kar Wai.”

Mais do que vestimentas de personagens marcantes do cinema, o vestuário disponibilizado para venda é também um passeio pela história da moda. “Vão ter roupas das décadas de 1920, de 1950, de 1970... Coisas garimpadas em viagens, jeans dos anos 1980. Eu estou sempre ligada por onde passo. Além disso, vamos vender uma bolsa Giorgio Armani e outras coisas de maior valor. Vamos ter araras com roupas a partir de R$ 20 até artigos mais caros”, conta Carol. 

Hoje vai ser um verdadeiro exercício de desapego para as duas. De fato, são mais de 250 acessórios e vestes disponíveis no bazar. Com tanta roupa, já estava difícil para as duas administrarem seus acervos, até porque algumas peças exigem certos cuidados de conservação. “A ideia veio de uma necessidade e para dar movimento mesmo, permitir a gente viajar mais leve”, finaliza Bárbara.

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