GELEIRA

Imensidão branca do Perito Moreno, na Patagônia Argentina

Caminhar pelo gelo compactado que forma o Perito Moreno, na Patagônia Argentina, é uma experiência transcendental

Mariana Araújo
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Mariana Araújo
Publicado em 05/01/2015 às 15:38
Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação
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A próxima novela da Globo da faixa das 18h, Sete Vidas, que substituirá a atual Boogie Oogie, terá parte da história passada na Antártida. Na trama, o ator Domingos Montagner viverá o navegador Miguel, que sai para uma expedição na Antártida e deixa de enviar notícias. Assustada, a jornalista Lígia (Débora Bloch), que faz par romântico com Domingos, vai em busca do amado. Mas, caro telespectador, não se engane. A equipe não foi até o continente gelado para gravar as cenas. Parou um pouco antes, na cidade de El Calafate, na Patagônia Argentina. O que você verá na tela como o gelo do Polo Sul é, na verdade, o Glaciar Perito Moreno, uma das principais atrações do turismo de aventura da cidade.

Caminhar sobre a formação de gelo, que tem 254 quilômetros quadrados, 60 metros de altura e 30 quilômetros de extensão, é uma experiência e tanto. El Calafate foi um dos destinos das férias desta repórter que vos escreve e o Perito Moreno estava na rota. Quando o barco se aproxima do imponente paredão de gelo, a sensação é que se está no meio de um documentário do Discovery Chanel, vendo paisagens e formações que só pensamos que existem na televisão. Também há aquela sensação de Titanic quando passamos ao lado de um bloco de gelo que se desprende. Mas nada que ameace o catamarã que navega pelo Lago Argentino de ir a pique.

Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação
Glaciar Perito Moreno, El Calafate, Patagônia Argentina - Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação
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Glaciar Perito Moreno, El Calafate, Patagônia Argentina - Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação
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Glaciar Perito Moreno, El Calafate, Patagônia Argentina - Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação
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Glaciar Perito Moreno, El Calafate, Patagônia Argentina - Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação
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Glaciar Perito Moreno, El Calafate, Patagônia Argentina - Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação
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Glaciar Perito Moreno, El Calafate, Patagônia Argentina - Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação
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Glaciar Perito Moreno, El Calafate, Patagônia Argentina - Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação
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Glaciar Perito Moreno, El Calafate, Patagônia Argentina - Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação
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Glaciar Perito Moreno, El Calafate, Patagônia Argentina - Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação
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Glaciar Perito Moreno, El Calafate, Patagônia Argentina - Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação
Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação
Glaciar Perito Moreno, El Calafate, Patagônia Argentina - Foto: Sérgio Montenegro Filho/Divulgação

Uma única empresa é autorizada a explorar o turismo na geleira. Há duas opções de trekking: uma com seis horas de duração, onde se chega até a metade da formação de gelo, e outra com uma hora e meia, escolhida pela maioria dos turistas, inclusive por mim. Portanto, nem pense em chegar sozinho. Os guias sabem exatamente por onde devem ir, onde é seguro pisar. Até porque chegar sozinho é complicado.

Também não é possível fazer aquelas cenas fofas de brasileiro que vive nos trópicos quando vê neve, jogando bolinhas uns nos outros, fazendo anjinhos no chão e bonecos com nariz de cenoura. Não é neve, é gelo compactado.

A geleira Perito Moreno é formada pelo acúmulo constante de neve – mesmo no verão - oriunda das montanhas da Cordilheira dos Andes. Está em constante renovação. Mesmo que caia um pedaço lá na frente, mais gelo está se acumulando lá atrás. Por isso, não precisa ficar com a consciência ambiental pesada. Nem quando tomar o uísque oferecido no final do trekking, com gelo arrancado das formações pelos guias. A geleira anda de um a dois metros por dia, um dos motivos dos desprendimentos.

CHEGANDO

O ônibus pega os turistas nos hotéis por volta das 8h e segue até o Parque Nacional los Glaciares, distante 80 km da cidade. Na entrada do parque, o veículo é parado e funcionários recolhem o valor dos ingressos, que varia de acordo com a nacionalidade. Graças a um acordo do Mercosul, brasileiros pagam 150 pesos argentinos (cerca de R$ 45), um pouco menos que os europeus. Depois de se chegar ao dique, um barco leva até o outro lado do lago. A navegação dura cerca de 20 minutos. Devido ao risco de desprendimento do gelo, a embarcação não se aproxima tanto do paredão. Mas se você tiver a sorte de um bloco ter caído momentos antes, é possível passar ao lado de icebergs. Voltamos a falar em sorte já já.

No verão, a temperatura na cidade fica entre 5ºC e 10ºC, mas, na geleira, isso cai para 0ºC fácil. Então, roupas térmicas são mais do que necessárias, além de um casaco corta-vento ou revestido para temperaturas baixas. Se for impermeável, melhor ainda, pois pequenos flocos de neve caem constantemente. Sapatos de caminhada ou antiderrapantes são recomendados.

O barco deixa os turistas em um ponto de apoio, com prateleiras para deixar mochilas e banheiros. Depois de uma caminhada de cerca de 15 minutos pela margem do lago, chega-se ao pé da geleira. Os guias são os responsáveis por colocar os grampões nos pés, uma estrutura de ferro que ajuda na aderência dos passos ao gelo.

É agora que a aventura começa. Subidas e descidas pela imensidão gelada e branca. Nada que assuste sedentários. A investida mais íngreme equivale ao esforço de subir três lances de escada. É como se você escalasse um terço da Ladeira da Misericórdia, em Olinda, mas com uma euforia diferente da do Carnaval. Durante o trajeto, que leva cerca de uma hora e meia, são feitas várias paradas, o que torna o passeio ameno. A dica é levar uma garrafa de água vazia para encher lá em cima. Afinal, que oportunidade temos para beber água puríssima, in natura e super gelada?

O caminho é repleto de fendas e sumidouros. Algumas brechas no gelo – dizem os guias – chegam a 40 metros de profundidade. As formações com nuances que vão do branco ao azul são impressionantes. Um momento de contemplar a força da natureza e fazer com que os mais céticos passem a questionar uma existência e ação divina. É uma daquelas sensações que, quando termina, dá vontade de voltar e fazer tudo de novo.

No ponto de apoio, não há comércio de alimentos ou bebidas. Os turistas precisam levar suas refeições, sanduíches ou snacks, que serão devoradas após o esforço da caminhada, enquanto se espera o barco voltar para buscar o grupo. Esqueça o frio e o vento escolha uma mesa ao ar livre, contemplando a paisagem.

NATUREZA

Quando estava pesquisando sobre o trekking, li coisas como “tomara que você tenha a sorte de ver um bloco de gelo se desprendendo”. E tive. Duas vezes. O barulho chega sem aviso. É um estrondo enorme, como um trovão que faz marmanjos se encolherem de medo debaixo de lençol em noite de tempestade. E também é rápido. Se você estiver posando para fotos no exato momento em que o gelo cair, fará a foto. Se não, esqueça. Observe a natureza agir e guarde a imagem na sua mente, porque não dará tempo de ligar a máquina. Foi o que eu fiz. A queda do gelo provoca ondas nas calmas águas do Lago Argentino.

Na volta para a cidade, é hora de viver uma nova experiência, desta vez gastronômica. Vários restaurantes oferecem o prato típico da região, o cordero patagonico (sem acento, em espanhol). A carne é assada na brasa, nas vitrines das casas. Para acompanhar, peça um malbec produzido também na região. Na sobremesa, experimente o sorvete de calafate, fruta que dá nome à cidade, uma espécie de “berry”, daquelas comuns no Hemisfério Norte. E se quiser esticar, vá a um pub experimentar as cervejas artesanais.

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