SOLIDARIEDADE

Pernambucana costura um vestido por dia para doar a meninas do Sertão

Tereza Matos se inspirou no exemplo de uma senhora americana que produz roupas para garotas africanas

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 22/03/2015 às 5:00
Sérgio Bernardo/JC Imagem
FOTO: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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No último dia de fevereiro, a servidora pública Tereza Maria Matos, 54 anos, tomou uma decisão que mudou sua rotina. Impressionada com a generosidade de uma senhora americana que confecciona um vestido por dia para uma entidade que leva as roupas para garotas da África, ela resolveu fazer algo parecido. No dia seguinte, 1º de março, estava Tereza em frente à sua máquina de costura. Juntou retalhos de tecido xadrez vermelho, outros de listras pretas, mais alguns com coraçõezinhos azuis. Na ponta, enfeitou com bico de cambraia. Estava pronto o primeiro vestido, de um total de 301 que ela pretende fazer, diariamente, até próximo do Natal. A diferença é que, em vez de cruzarem o Atlântico para o continente africano, as peças vão para as pequenas sertanejas pernambucanas.

Nasceu ali o projeto Vestidos em algodão para as meninas do Sertão. “Sempre gostei de ajudar. Este ano alcancei uma graça e senti que precisava agradecer, retribuir ao mundo. Me chamou muita atenção a história de Lillian Weber, que aos 99 anos costura um vestido por dia. Sem nenhuma pretensão em me igualar a ela, tive vontade de fazer algo nesse sentido. Porque o que é bom a gente tem copiar”, afirma Tereza. “Começando em 1º de março, até 20 de dezembro, são 301 dias. Pois pretendo costurar 301 vestidos. Tenho consciência de que se trata de um desafio um tanto quanto delicado. Porque não é tão simples como se parece. No meu caso o maior empecilho é o tempo, já que sou mãe, avó, esposa e servidora pública. Mas quer saber? Quando se quer que algo aconteça de verdade, corre-se atrás e se faz!”, destaca.

E por que para meninas do Sertão, se Tereza só conhece a cidade de Arcoverde e mesmo assim esteve lá numa rápida visita a trabalho, seis anos atrás? “Porque é onde tem muitas crianças carentes, esquecidas, com mais dificuldades. O Sertão parece fascinante nas fotografias. E como algodão é fácil de costurar, é um tecido fresquinho e que dura a vida toda, pensei em vestidinhos para as meninas humildes do nosso Sertão pernambucano”, explica Tereza, fã de violeiros como Xangai, Vital Farias e Elomar, cujas músicas tocam enquanto ela pacientemente produz as roupas, num quarto transformado em ateliê, no casarão onde cresceu com os pais e mais seis irmãos, no bairro do Varadouro, em Olinda, Região Metropolitana do Recife.



Nenhum dos 21 vestidos que produziu até agora é parecido. Cada um tem um detalhe que o deixa charmoso. Um laço de fita, um bico de cambraia, bolsos coloridos, sianinhas. “Corto sem molde. Não programo qual será o modelo. O que vem na cabeça na hora e o tecido dá, faço. Coloco muito amor quando estou costurando. Fico imaginando a menina que vai usar, como ficará feliz em ter uma roupa nova”, diz Tereza. Ela aprendeu a costurar aos 12 anos. Via a avó materna, Idalina, fazer o mesmo. Daí surgiu a vontade de aprender. Prontamente seu pai a matriculou em um curso de corte e costura. “Costurava para mim, fazia meus vestidos na adolescência. Parei depois que casei. Tenho três filhos e dois netos e nunca costurei nada para eles”, relata Tereza, mostrando um dos vestidos que confeccionou com o tecido estampado com meninas, que ela comprou para fazer saídas de banho para as duas filhas (e que não passou de uma ideia).

COLABORAÇÃO

Com o desafio à frente, Tereza comentou com amigas sua ideia e divulgou o projeto nas redes sociais. Foi o bastante para conquistar vários colaboradores, não só em Pernambuco, mas do Brasil afora. A artista paulista Maria Cininha encantou-se com a iniciativa e fez a (linda) arte do projeto. A bordadeira Jaci Ferreira, também de São Paulo, soube do trabalho e decidiu costurar e bordar um vestido para mandar para Tereza. Contou para as alunas. Logo arrumou mais 30 voluntárias dispostas a bordarem 30 vestidinhos. “Vamos desenhar um bordado inspirado na realidade do Sertão, onde vivem as meninas que usarão os vestidos”, conta Jaci. Melina Cunha, uma jovem de Belém do Pará, prometeu fazer flores de crochê e enviá-las para enfeitarem algumas roupinhas.

Colega de trabalho de Tereza, Aída Nejaim, 47, nunca fez um vestido. Produz patchwork. “Achei uma ideia tão legal que resolvi tentar. Tereza me convenceu a participar”, diz Aída, que começou a tarefa semana passada e já costurou nove modelos. Aquelas que não têm facilidade com tesouras, linhas e agulhas, contribuem com material de trabalho ou com a pesquisa para definir para quais cidades serão levadas as peças. “Preciso de cortes de tecidos, linha em algodão, botões, agulhas de máquina nº 11, fitas, bicos de cambraia bordada em algodão, elástico, zíper, retalhos. Já recebi muitas doações, mas ainda necessito de mais pois serão 301 vestidos. Qualquer ajuda é muito bem-vinda. Mão-de-obra também!”, diz a servidora pública.

Surpresa com o alcance que o projeto teve (há mais de mil curtidas na página do facebook), Tereza reconhece que, mesmo em tão pouco tempo, a iniciativa não é mais só sua. “Encarei o desafio com responsabilidade, serenidade, alegria e amor. Mas esse projeto não é apenas só meu. É de todos aqueles que, de alguma forma, sentirem o desejo de colaborar. Fico feliz pois está tocando o coração das pessoas”.

Quer ajudar?
Vestidos em algodão para as meninas do Sertão (comunidade no facebook)
Telefone e whatsapp (081) 8618-1194
E-mail: [email protected]

Sérgio Bernardo/JC Imagem
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