Balé

Nunca é tarde para ser uma bailarina

Turma reúne mulheres que nunca perderam o amor pelo balé

Luana Ponsoni
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Luana Ponsoni
Publicado em 12/04/2015 às 15:02
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Turma reúne mulheres que nunca perderam o amor pelo balé - FOTO: Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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A primeira sapatilha de ponta usada por Ana Maria Mendes, de 69 anos, foi exibida como troféu em uma das aulas que marcam o seu retorno ao balé, após pouco mais de cinco décadas de afastamento. Entre as colegas que igualmente estão voltando a dançar, o adereço acabou adquirindo um simbolismo especial. No olhar de cada uma, era possível identificar que o par tão antigo passou a representar o sentimento que todas sempre nutriram pelo estilo de dança. Tal qual a sapatilha de ponta guardada durante tantos anos por Ana Maria, o amor dessas mulheres pelo balé resistiu ao tempo, convivendo pacientemente com as mudanças de rotina e a prioridade dada às vidas pessoal e profissional. Agora que alguns compromissos estão minimamente estabilizados, elas experimentam a sensação de vivenciar essa paixão novamente, mesmo que a maioria esteja próxima de completar 40 anos.

Voltar a realizar passos como plié e frappé, aprendidos quando elas ainda eram crianças, só se tornou possível depois que os caminhos de algumas cruzaram com o da professora Marisa Queiroga. Ensinando balé há quase quatro décadas, ela dá aulas a adultos iniciantes no Unic Espaço de Metas, em Boa Viagem. “Antes de começar a ensinar para essa turma, cruzei com mulheres que já tinham casado, tido filhos, conquistado realização profissional, mas permaneciam com o desejo frustrado de retornar à dança ou começar do zero mesmo. Foi questão de tempo para a procura crescer muito”, contou Marisa.

Aluna de pilates do Unic, Ana Maria Mendes descobriu que o local também oferecia aulas de balé por acaso. Ela estava saindo de uma das aulas quando viu outras mulheres com roupas características da dança e fez sua matrícula imediatamente. O amor de Aninha, como é carinhosamente chamada, pela atividade se justifica também por uma particularidade. Ela é filha de Betsy Gates, a primeira professora de balé do Recife. Influenciada pela mãe, Aninha calçou a primeira sapatilha de ponta aos quatro anos. Continuou nos palcos até os 15, quando a vida, como ela mesma gosta de justificar, acabou por afastá-la da dança. “Foi uma emoção grande escutar músicas tão presentes na minha infância. A desenvoltura também não sofreu muita mudança, mesmo tantos anos depois”, garantiu.

A mesma sensação foi compartilhada pela colega de turma Fernanda Montenegro, de 40 anos. Ela é uma das mais experientes da turma por ser a única que conseguiu levar a prática do balé até a vida adulta. “Parei aos 25 anos. Depois comecei a trabalhar, casei, tive filhos e não consegui mais conciliar. Mesmo assim, o amor pelo balé nunca morreu. Passaram-se 15 anos e, com os filhos maiores, pude retornar. A satisfação continua a mesma e o desempenho também não mudou. Marisa (Queiroga) costuma dizer que balé é como andar de bicicleta, a gente nunca esquece”, disse.

Apesar de a maioria já ter tido vivências no estilo de dança, no grupo, existem mulheres que só conseguiram realizar o sonho de se tornarem bailarinas na vida adulta. A enfermeira Anne Pires, 30 anos, é uma delas. Nascida e criada em Cabrobó, no Sertão do Estado, ela nunca conseguiu fazer balé quando criança porque simplesmente não tinha onde se matricular em sua cidade natal. “Antes de começar, foi difícil. As pessoas me questionavam se eu não estava velha para virar bailarina. Mas depois que postei uma foto nas redes sociais, isso mudou”, relembrou.

Disponibilizar aulas de balé para adultos iniciantes no Unic de Boa Viagem faz parte da proposta do local, que funciona como um espaço alternativo para quem quer fugir dos ambientes das academias de ginástica. “Sempre foi um interesse meu trazer o balé para cá. Esse estilo de dança atinge essa proposta de atividade física alternativa, além de ser belíssimo”, comentou um dos sócios do estabelecimento, Gabriel Perussi.

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