TATUAGEM

Arrependimento após tatuar o nome do "ex" leva pessoas a recorrerem ao cover-up

Técnica, tida como rápida e barata, consiste em cobrir o desenho com outro por cima. Outros procedimentos podem ser utilizados

Rossini Gomes
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Rossini Gomes
Publicado em 05/07/2015 às 7:00
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Técnica, tida como rápida e barata, consiste em cobrir o desenho com outro por cima. Outros procedimentos podem ser utilizados - FOTO: Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Se arrependimento matasse, Rafael e Ercília estariam mortos. No intuito de tornar visível o amor pela pessoa amada, eles fizeram uma tatuagem com o nome da(o) ex-companheira(o). Mas o que era esperado como amor eterno durou pouco tempo e agora já não faz sentido ficar marcado na pele, servindo como lembrança de um enlace passado e, talvez, comprometendo futuros relacionamentos. Como forma de ficar livre dessa recordação, os dois recorreram ao cover up, técnica que consiste em cobrir uma tatuagem com outro desenho e evitar removê-la por meio do laser ou de outros procedimentos (veja detalhes logo abaixo).

Rafael Cabral sempre gostou de tatuagem. Aos 15, já tinha o cantor jamaicano Bob Marley na perna esquerda, sua primeira tattoo; um ano depois, estampou uma Flor de Lótus na perna direita. Também aos 16, decidiu fazer uma surpresa para a namorada, um ano mais nova. No dia do aniversário dela, pediu que um amigo e tatuador grifasse “Joana” no punho do braço esquerdo, na cor preta. O procedimento foi rapidinho, durou somente 15 minutos. “Ela gostou, ficou feliz, surpresa”, lembra ele, hoje com 22 e também tatuador.

Mas o relacionamento, de um ano e seis meses, não vingou. Os gostos diferentes de cada um permitiram a ambos sustentar a relação por somente mais três meses. E o arrependimento veio à tona. “Na verdade, foi uma loucura. Eu gostava dela e decidi fazer. Não pensei muito, foi por impulso. Eu era muito jovem na época, e meu amigo nem quis fazer, mas eu insisti”, diz, acrescentando que desembolsou R$ 30. Para se livrar do problema, Rafael tatuou um trevo de quatro folhas no local. Mesmo assim, passou dois anos com o nome ainda visível, e só resolveu a situação há cerca de um mês. “É porque o trevo era verde e não cobriu totalmente, somente agora, pois recolori com tinta preta”, explica, satisfeito. Durante o período em que o nome ficou à mostra, a atual namorada não gostava nada de ver a palavra grifada no braço dele. “Ela ficava pedindo pra eu tirar, dizendo ‘não vai cobrir, não?’”, comenta, compreensivo. “Se fosse comigo, eu também acharia estranho.”

Mas a experiência deixou uma lição. Hoje ele tem 15 tatuagens pelo corpo – nas costas, na testa, nos braços, na perna e no pé –, mas nenhuma com o nome de alguém. “Nunca mais vou colocar o nome de alguma namorada; nem o da minha esposa, se eu casar. Se eu colocar, vai ser só o nome dos meus filhos e o da minha mãe”, afirma, convicto. Pois nem o nome da filha Ercília Rodrigues tatuaria. Há três anos, quando tinha 22, a universitária tatuou a Fada Sininho, personagem da Disney, apontando para “Rodrigo” na panturrilha direita. “Como estávamos apenas nos conhecendo e não tínhamos um relacionamento sério, foi mais pra chamar a atenção dele mesmo, pra ver se ia dar em casamento”, conta. “Ele gostou, mas me chamou de doida, disse que foi um ato de muita coragem, porque não teria volta, caso eu me arrependesse.”

A paixão pelo companheiro era tanta que, logo após a tatuagem (a primeira), ela fez outra, no mesmo instante. “Uma pimenta, vermelha, num local proibido”, simplifica, rindo. A sessão para fazer os dois desenhos durou uma hora. Antes de fazer, ela pensou muito, e adotou uma estratégia: além do nome dele, colocou o nome ‘mãe’ e ‘Duda’, sua sobrinha, ao lado, porque, se o namoro acabasse, diria que o nome era de algum sobrinho, por exemplo. “Meu atual companheiro sabe a verdade, mas a família dele pensa que ‘Ricardo’ é um sobrinho meu.”

A tattoo foi feita quando o relacionamento chegou a quase sete meses. Diferente de Rafael, a relação durou ainda um bom tempo, três anos, mas foi rompida por uma traição que ela não perdoou. “Ele até já pediu para voltar”, conta Ercília, hoje com uma filha de 2 anos, Lívia. “O que eu sentia por ele não era amor, era doença, obsessão. Realmente, não faria outra tatuagem”, garante, pensando em cobrir o desenho futuramente. “Hoje em dia tenho vergonha, porque me arrependi e só agora vi o tamanho da besteira que fiz.”.

 

É PRECISO FICAR ATENTO ÀS DIVERSAS TÉCNICAS DE REMOÇÃO

O fato de a tatuagem não ser como um risco de lápis num papel que pode ser facilmente apagado por uma borracha, uma solução prática e barata é cobri-la com um desenho (cover up), como fez Rafael e pretende Ercília. Mas outras quatro técnicas podem ser utilizadas para remover a pintura do corpo. Diante das variadas opções existentes, é importante saber qual procedimento apresentará o melhor resultado. E se a intenção é fazer uma tatuagem, seja ela qual for, o ideal é pensar duas, três, quatro vezes e lembrar desta afirmação do dermatologista Fernando Macedo: “É difícil remover.”

Se o desenho for pequeno, cerca de dois centímetros, é possível se desfazer dele por meio da cirurgia convencional. O método consiste em retirar o pedaço da pele e suturá-lo, ou seja, trocar o desenho por uma cicatriz, explica o médico. “Mas poucas pessoas fazem isso”, complementa. Outra opção é a dermoabrasão. “É nada mais do que lixar a pele com uma broca diamantada, mas é um método quase em desuso por causa do risco de deixar marca e diferença de cor na pele”, afirma, lembrando da despigmentação. “São cremes clareadores, mas não são eficientes”, simplifica.

Na avaliação do profissional, o laser é o procedimento que pode apresentar o resultado mais satisfatório. “Tem vários tipos, mas é preciso cuidado, pois alguns podem queimar a pele. O mais eficaz e recomendado é o tipo Q-switched. Ele tem uma característica única: permite remover o pigmento sem danificar a pele, pois dispara uma energia muito potente num intervalo de tempo (pulso) extremamente curto, de nanosegundos (dez elevado a menos nove segundos)”, detalha, lembrando que é mais fácil retirar desenhos feitos há mais tempo. Macedo diz que a quantidade de sessão dependerá do tamanho e da qualidade da tatuagem: se foi feita por amador, três ou quatro sessões serão suficientes; se foi feita por profissional, serão necessários de oito a dez encontros, que duram poucos minutos. Embora sejam poucas sessões, é preciso ter paciência. O tempo médio entre uma e outra pode variar de um a dois meses, pois é preciso esperar a remoção do pigmento agredido pelo laser.

Apesar da praticidade, retirar a tatuagem dói. Segundo o médico, os pacientes dizem doer mais do que fazer o desenho. “A sessão para remover é mais rápida, mas a intensidade é maior. Costuma-se usar um creme anestésico meia hora ou uma hora antes da aplicação do laser, e também fazer um resfriamento da pele com bolsas de gelo ou com ar gelado. Tudo para diminuir a dor”, diz o profissional. Para pacientes mais sensíveis, recorre-se à aplicação de anestesia. “O problema é que, se o desenho for grande, não dá para anestesiar por completo.”

COLORIDA X PRETO E BRANCO - Remover tatuagem colorida dá muito mais trabalho, porque o laser tem mais efeito sobre as cores escuras, como preto, marrom e azul-escuro. “Já para as cores claras não há comprimentos de onda tão eficazes, sobretudo para o amarelo e o laranja”, diz Macedo, acrescentando que já existem ponteiras específicas para o vermelho e o azul e o verde claros. Durante o período de sessões para retirada do desenho, é importante ainda tomar alguns cuidados. A recomendação é usar um creme cicatrizante e um curativo para evitar atrito e machucar a tatuagem, que ainda está sensível à ação do laser. Outra orientação é evitar exposição ao sol por, no mínimo, os 15 primeiros dias.

 

ESTUDANTE DESENVOLVE POMADA PARA REMOVER TATUAGEM

Um novo produto está sendo desenvolvido por um estudante da Universidade de Dalhousie, no Canadá, para remover tatuagem: uma pomada, feita com tecnologia de baixo custo, intitulada Bisphosphonate Liposomal Tattoo Removal (BLTR). A promessa é de que o creme, pesquisado por Alec Falkenham, libere uma droga no corpo capaz de eliminar a tinta e não prejudicar o tecido da pele. E o produto já apresenta resultados: está sendo testado em orelhas de porcos, e foi verificado maior eficácia em desenhos feitos há mais de dois anos. Quanto ao preço, a expectativa é de que o valor da pomada para remover tatuagens de dez centímetros custe US$ 4,50.

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