Vivemos uma época em que grandes escândalos de corrupção, mentira e desonestidade infelizmente ganham destaque. Mesmo diante de uma série de desastres éticos, ainda há espaço para os heróis incorruptíveis, que surpreendem por adotar comportamentos rodeados pela honestidade. Com condutas dignas, eles servem de exemplo para mostrar que ser correto ainda é possível, mesmo diante da onda de desvios que nos acompanham no dia a dia. Para pessoas assim, os verbos mentir e trapacear passam bem longe das atitudes que valorizam.
É o caso da assistente financeira Rosimary Mendes da Silva, 34 anos, que já acordou um dia com R$ 40 mil além do esperado na conta corrente. “Quase que infarto quando o banco me ligou para saber sobre esse valor, que não é habitual na minha conta. Na hora, confirmei que não era meu e autorizei que fosse feita a retirada”, conta Rosimary, que soube depois que o valor caiu na conta corrente errada por erro de um dígito no momento em que o depósito foi feito.
“Muita gente brincou com essa situação, dizendo que eu poderia ter dito que o dinheiro era para mim, que eu deveria ter feito um saque e depois checar o que aconteceu. Mas claro que isso não tem fundamento. Prefiro sempre optar pelo certo.” A leveza bateu, segundo conta Rosimary, quando o gerente da conta agradeceu imensamente pela atitude que ela teve. “Ele demonstrou gratidão e disse que não é qualquer pessoa que faz isso.”
De fato, incorporar atitudes honestas parece estar em extinção, como bem explica a psicóloga Jacira Andrade. “Percebemos que existe atualmente uma inversão de valores grande, especialmente porque as pessoas que agem com decência lamentavelmente são tachadas de bobas.” Para a especialista, a sociedade precisa realimentar comportamentos em que se sobressaem a honestidade, que geralmente anda de mãos dadas com a bondade, justiça e igualdade. O mundo seria bem mais íntegro se a sociedade valorizasse essa rede de benevolência.
E todo esse ciclo que valoriza a dignidade nasce geralmente na infância, segundo Jacira. “Cada um de nós tem personalidade e temperamento próprios, que podem receber influência de atitudes honestas que vemos em casa. Os filhos aprendem mais com os exemplos da família do que com a palavra usada pelos pais. Por isso, a lealdade é moldada enquanto ainda somos crianças”, reforça a psicóloga.
Quem sabe disso é a dentista Carol Guimarães, 35, que faz questão de observar a conta nos caixas dos estabelecimentos. “Nas vezes em que os funcionários deixam de passar algum item, faço questão de mostrar o erro e peço que registrem na conta o produto que faltou ser passado. Aprendi com o sermão do padre do colégio onde estudei que roubar um grampo de cabelo é o mesmo do que assaltar um banco”, diz Carol.
Quem também faz questão de adotar atitudes leais é o funcionário público Elton Cavalcanti, 40, que achou R$ 150 enrolados num boleto bancário. Não titubeou: pagou a fatura na própria loja onde a encontrou. Minutos depois, encontrou o dono da conta, que ficou surpreso com o gesto de Elton. “Fui contemplado com uma atitude semelhante. Perdi R$ 200 na sala do meu trabalho e felizmente a pessoa que achou me devolveu. Interessante é que ela questionou como eram as notas para ter certeza de que se tratava do meu dinheiro.”
Para o professor do ensino fundamental Edvaldo Castilho, 35, a lealdade é para vir de um gesto espontâneo e, por isso, não deve despertar admiração. “Mas parece que o mundo está carente de honestidade”, diz Edvaldo, que recentemente encontrou um celular numa grade de refrigerantes em cima de uma prateleira do supermercado. “Liguei para os números mais recentes salvos no aparelho para localizar o dono. E só sosseguei quando o encontrei”, recorda Edvaldo, que mantém a consciência limpa por adotar a lealdade como lema.
