PERFIL

Rafael Cavalcanti, pernambucano na Ópera do Malandro, virou ator por acaso

Aos 25 anos, o rapaz largou a faculdade de jornalismo já perto de se formar, quando seu sonho oculto virou realidade. Escalado para atuar na Ópera do Malandro, tem arrasado

Do JC Online
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Publicado em 24/10/2015 às 18:55
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Aos 25 anos, o rapaz largou a faculdade de jornalismo já perto de se formar, quando seu sonho oculto virou realidade. Escalado para atuar na Ópera do Malandro, tem arrasado - FOTO: Foto: André Nery/JC Imagem
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    – Alô, Rafael? 

    – Sim, sou eu.

    – Aqui é João Falcão. Vamos fazer essa peça? Quando você pode vir para o Rio?

    Rafael Cavalcanti, 25 anos, largou a faculdade de jornalismo no passado, faltando duas disciplinas para terminar a graduação na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Um telefonema do diretor João Falcão foi o estopim para a desistência da carreira de jornalista. “Não queria ser jornalista. Entrei no curso sem saber o que queria ser”, conta o rapaz. Era uma segunda-feira, início de junho do ano passado, quando o telefone tocou e o convite foi aceito. Três dias depois, lá estava Rafael no Rio de Janeiro, no primeiro encontro com o elenco do musical Ópera do Malandro, com o qual ele sobe ao palco neste sábado (24), no Teatro Guararapes, vivendo a prostituta Doris.

    “Em abril do ano passado, meu amigo (o ator) Eduardo Rios me ligou do Rio dizendo que tinha mostrado uns vídeos meus a João e ele queria que eu fosse fazer o teste para a Ópera. Fui lá e fiz, mas não passei”, conta Rafael, que por, vira e mexe, imitar o rebolado de Sidney Magal ganhou dos amigos o sobrenome do cantor como apelido. 

    “Já tinha passado mais de um mês, e eu estava voltando das gravações do filme Catimbau, de Lucas Caminha, quando o meu telefone tocou de novo. Era Edu dizendo que um ator tinha saído do elenco da peça e que João queria mais vídeos meus. Gravei e mandei”. Uma hora depois, o próprio diretor liga para Rafael e o chama para o trabalho. “Eu tinha escutado ele no teste e fiquei muito impressionado. Hoje ele é um dos queridos”, afirma João. 

     

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    Magal nunca pensou em ser ator, embora costumasse ir ao teatro, sobretudo assistir aos espetáculos do Grupo Magiluth. Sua experiência com arte caminhava pela música, já que desde 2011 passou a cantar com os amigos integrantes da banda Cosmo Grão e foi se descobrindo cantor. 

    “Numa festa da Copa Paulo Francis, a CPF, dos estudantes de Jornalismo da UFPE, os meninos me chamaram para cantar umas músicas de Tim Maia, que eu sempre brincava de cantar. Ali senti uma coisa diferente, quando estive no palco”. A brincadeira foi virando coisa séria e no ano seguinte Rafael montou com os amigos a banda Sebastião e Os Maias, à qual tem se dedicado desde então, e com a qual se apresentou também neste sábado (24), após o teatro, no Capibar, na Zona Norte do Recife. 

    AMIZADE

    O caminho para o teatro Rafael Cavalcanti diz ter sido impulsionado pelo amigo Eduardo. “Ele que me levou para um curso de palhaço, em 2013, com o ator Ésio Magalhães, aqui no Recife. Ele mesmo quem pagou e me arrastou”, lembra ele. “Foi por causa da minha desenvoltura no curso que Edu se lembrou de me indicar depois para João.”

    A amizade entre Rafael e Eduardo começou também por acaso, ainda na universidade, quando os dois participavam da organização da Copa Paulo Francis. Entre uma festa e outra, uma brincadeira e outra, Edu, que já era ator, instigava o amigo ao universo do teatro. “Nas nossas conversas eu falava sempre sobre o palhaço, falava que ele tinha estudar sobre isso, que a gente podia ser o gordo e o magro. E cada vez mais ele se interessava por nossas conversas sobre o assunto”, lembra Eduardo. 

     

     

    “Quando João Falcão falou a gente que queria uma galera diferente para completar o elenco da peça, homens não-atores, que de repente nem tivessem uma experiência profunda com teatro, imediatamente lembrei de Rafael. Eu disse: ‘João, eu sei de um cara que você vai gostar’. Comecei a descrever Rafael e vi João com os olhos brilhando. Peguei um vídeo dele saindo de uma piscina e brincando de ser sensual. Editei lá em casa, mandei para João o vídeo, e ele me ligou enlouquecido: ‘Quem é esse cara?!’”, conta. 

    Não bastasse a estreia na carreira de ator compondo no elenco da Ópera do Malandro, releitura de uma dos principais obras da dramaturgia brasileira contemporânea, Rafael Cavalcanti não imaginava a surpresa que ainda viria: “estrear no Teatro Municipal. Diga aí?”, gargalha. Cantando, dançado e atuando em cena, o rapaz foi aprendendo, de forma autodidata e também em oficinas com os colegas de trabalho, sobre universo que agora estava inserido. Mais de um ano vivendo sua Doris – em temporadas no Rio, São Paulo e circulação nacional – Magal se diz disposto a investir ainda mais na carreira de ator, sem deixar de lado, claro, a de cantor.

    Dono de uma simpatia contagiante, o jovem artista pernambucano também ensina e muito aos seus colegas de elenco, principalmente Eduardo, o amigo e incentivador: “Assim que ele chegou, já foi muito bom olhá-lo. Num grupo que você já tem atores, técnicas formadas, é muito bom ter alguém que se guia pela intuição. Ele tinha limitações técnicas, e através de olhar e de buscar aprender, ele foi sabendo controlar a ansiedade dele e chegar a um lugar firme. Ele está aprendendo a domar esse leão dentro dele. E isso me faz o admirar muito.”

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