Com passagens pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, Facepe e pela própria Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado, Lúcia Carvalho Pinto de Melo conhece de perto o setor. Em entrevista, a secretária afirma que quer levar Pernambuco à liderança em investimentos na área no Nordeste. “Ciência, tecnologia e inovação devem ser política de Estado mais do que de governo, pois exige continuidade. Quando se interrompe, o ônus é muito grande – perde-se todo o trabalho acumulado”, acredita.
JORNAL DO COMMERCIO – A senhora está retornando para a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado. Como foi sua primeira passagem pela pasta?
LÚCIA MELO - Fui secretária de Ciência e Tecnologia na época em que tudo isso estava começando. Durante o segundo governo de Miguel Arraes surgiu a ideia que Pernambuco precisava ter uma agenda de desenvolvimento tecnológico estadual. O governador era uma pessoa muito atenta à contribuição que a ciência poderia dar para melhorar as condições de vida da população pobre. O primeiro secretário foi Jáder de Andrade e eu era diretora de planejamento. Na transição entre Arraes e Carlos Wilson (1990) fui indicada para o cargo.
JC – Nesses 25 anos, o quanto o setor mudou no Estado?
LÚCIA – Quando começamos a operar, o gabinete era muito pequeno. Tinha umas dez pessoas. Todo conceito de uma pasta de Ciência e Tecnologia, onde um conjunto de atores se articulam para gerar inovação, ainda estava em desenvolvimento em âmbito mundial. Pernambuco ainda tinha uma base de competências na área muito pequena e o número de pesquisadores era menos da metade do que se tem hoje. A atividade industrial era reduzida, focada em poucos segmentos e com baixa complexidade tecnológica. A partir da criação da secretaria isso foi evoluindo, mas a mudança mais significativa se deu mesmo nos últimos dez anos e o setor passou a ser considerado estratégico. Infelizmente, a disponibilidade de recursos não tem tido um crescimento tão constante.
JC – Como a senhora espera aumentar esses recursos para o Estado?
LÚCIA -Todos os Estados investem pouco. Aqui ainda tivemos um aumento expressivo, mas temos ainda uma presença tímida: investe-se aqui menos de 10% do que em São Paulo e metade do que na Bahia. Queremos ampliar consideravelmente essa capacidade de investimento, na mesma medida que tenhamos uma capacidade real de nos articularmos. A base de conhecimento tem que crescer, o número de pessoas formadas tem que crescer, os centros de pesquisas têm que ser ampliados – mas tudo isso deve ser direcionado para que a sociedade se beneficie. O setor não é exigente apenas em recursos, mas devemos criar um ambiente institucional que favoreça a integração de todos os agentes. A tecnologia cresce através do fluxo de pessoas e ideias, que demandam uma mobilidade – e o Estado brasileiro ainda possui algumas amarras que impedem e dificultam esse processo.