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Mecânicos de carro antigo estão cada vez mais raros

Profissionais têm em comum a paixão por automóveis e a formação autodidata

Edilson Vieira
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Edilson Vieira
Publicado em 05/08/2012 às 8:02
Fotos: Guga Matos/JC Imagem
Profissionais têm em comum a paixão por automóveis e a formação autodidata - FOTO: Fotos: Guga Matos/JC Imagem
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Eles estão com as mãos sempre sujas de graxa. Trabalham sozinhos e têm poucos, mas fiéis clientes. São considerados especialistas nas antigas artes da mecânica, como regular um carburador ou acertar o ponto exato de ignição de um platinado. Peças que nem existem mais nos motores modernos mas, por isso mesmo, torna o trabalho deles mais valorizado. São os mecânicos tradicionais, cada vez mais raros num mundo tomado pela eletrônica dos carros novos.

Geralmente estabelecidos nos subúrbios, em pequenos espaços tomados por ferramentas e lembranças, eles ainda têm em comum a formação autodidata. Aprenderam o ofício quando criança, como ajudante. “Comecei lavando peças em uma oficina aos 13 anos de idade”, diz Mário Canuto, 53 anos, proprietário da Oficina Volante, em Santo Amaro. Ele afirma que é difícil conseguir um jovem disposto a aprender o ofício.

“Agora existem os cursos profissionalizantes, mas parece que os jovens não estão dispostos a aprender”, diz Mário Canuto, referindo-se à dificuldade em conseguir um mecânico aprendiz. Mas ele não reclama. Construiu sua fama de bom regulador de motores, na década de 90, quando atendia em domicílio levando consigo a própria oficina montada numa picape Fiorino.

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Mário costuma ser lembrado por amigos na hora de envenenar os motores

Segundo ele, mais de 60% de seus clientes são proprietários de carros antigos. Também há os seminovos que deixaram de frequentar as oficinas das concessionárias. Os Volkswagen com mecânica refrigerada a ar são sua especialidade. Suspenso em um dos elevadores da oficina, um reluzente Fusca 1975 comprova sua afinidade com o modelo. “Foi todo refeito por mim. Tem freio a disco nas quatro rodas e transmissão por junta homocinética”, diz Mário, ao mesmo tempo em que se enfia por baixo do Fusca para mostrar com orgulho os detalhes de sua obra.

Mário cobra pela regulagem em um motor de Fusca de R$ 60 a R$ 80 de mão de obra, dependendo se o modelo tem um ou dois carburadores. A maioria das peças ele consegue no mercado local, mas às vezes é preciso recorrer à internet e encomendar. Além dos Fuscas, outra paixão do mecânico são as competições. Ele tem o título pernambucano e vice-brasileiro de arrancada de 2008. Mário deixou as competições faz tempo, mas sempre é lembrado por amigos na hora de envenenar os motores.

A paixão por corridas também foi o que levou Romilson Cavalcanti a abraçar a profissão de mecânico. De tanto rodar pelos boxes das equipes nos dias de corrida, no autódromo que existia na Ilha Joana Bezerra, no Recife, ganhou o apelido que adota profissionalmente até hoje: Speed Moska. “Isto foi na década de 80. Eu gostava de acompanhar o trabalho dos mecânicos, era a minha maneira de aprender”, explica.

Romilson, ou melhor, Speed Moska, acabou entrando para o curso de mecânica da Escola Técnica Federal, mas nem chegou a concluir os estudos. Teve que se dedicar ao trabalho para ajudar a família. Aprendeu na prática, numa época em que a mecânica era feita com mais zelo, diz ele. “Não trabalho por hora. Meu compromisso é que o cliente saia satisfeito”, ele afirma. Speed Moska se diz um faz tudo em mecânica. De suspensão a freios, de regulagem a elétrica. Ao longo da carreira fez vários cursos de atualização, mas reconhece que sua clientela é formada na maioria por donos de carros antigos.

“É gente que gosta de carro e geralmente entende um pouco de mecânica, por isso não confia em entregar o carro pra qualquer um”, explica. No momento da entrevista, ele dividia a sua atenção com a montagem de um motor V-8 de cinco litros, pertencente a um Maverick, e a adaptação de uma injeção eletrônica no motor de um Opala, originalmente carburado. Perguntado sobre como conseguiu se manter numa atividade cada vez mais rara, ele resume: “está no sangue”

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