Roupas negras, correntes, aranhas, túmulos e esqueletos. Não se deixe amedrontar pela aparência macabra. Brasil Caveira é um sujeito de riso fácil e simpatia contagiante. Presidente do Motoclube que leva o seu nome, Brasil Caveira é um personagem criado pelo sargento reformado da PM Aldemir Ferreira do Nascimento. Aos 56 anos de idade, ele pode ser visto diariamente percorrendo as ruas do Recife montando no Caveirão - um triciclo com motor de Fusca que, um dia, já foi um Volkswagen Variant 1973.
“Encontrei o triciclo para vender durante uma viagem que fiz a São Paulo. Foi amor à primeira vista”, derrete-se seu Aldemir. Foi tanto amor que ele aceitou o desafio de percorrer os 2.600 km de distância entre a capital paulista e o Recife. Levou cinco dias para cumprir a missão, apesar do perrengues. “O triciclo quebrou tanto na estrada que cheguei a pensar em botá-lo em cima de um caminhão”, relembra Caveira. Não precisou. A viagem de estreia no mudo do motociclismo de três rodas já completou 9 anos. Depois do triciclo, a vida de Aldemir Nascimento nunca mais foi a mesma. Na verdade, ele sempre desejou viver a vida com um guidão nas mãos. “Como toda criança, queria ter uma bicicleta. Só fui realizar o desejo já adulto”, relembra.
Da bicicleta para uma motinha 125 não demorou muito. Mas Aldemir queria mais. “Via esse pessoal de motoclube passando em grupo, com essas roupas pretas e queria ser um deles”, diz. Até que, convidado por um amigo, foi conhecer essa gente estranha que anda em bandos e parece muito alegre. Logo tornou-se um deles. A viagem a São Paulo e o encontro com o triciclo o fez criar coragem de mudar de nome e de vida. Virou “Brasil Caveira”. “Brasil porque sou patriota e caveira porque é o símbolo da igualdade, todos nós vamos ser uma um dia”, filosofa. Hoje, o clube de 40 sócios, promove passeios e viagens, além de campanhas sociais como doação de sangue e de cestas básicas para várias entidades. Solidariedade é regra entre os motociclistas.
Atualmente o triciclo Caveirão é um fiel depositário do estilo de vida de seu proprietário. Ele carrega de tudo: de chaveiros a penico, de lanças a sirenes, de fitas e bandeiras a imagens de santos. Lembranças das muitas viagens que fez pelo Brasil. Quem o vê camuflado pelo visual “muito doido”, como ele mesmo define, pode se enganar achando que se trata de um inconsequente e irresponsável. Nada mais falso. Caveira e os sócios do seu clube nunca descuidam da segurança. Só andam de capacete, botas e luvas e respeitam as regras de trânsito, sempre. “Não tenho medo da morte, mas não sou doido de facilitar para ela”, sentencia, junto com sua fiel companheira. Além do triciclo, a outra paixão de Brasil Caveira é a esposa, Edineusa Dias, companheira de vida e de aventuras que prefere ser chamada de Edi Caveira. Este ano ela realizou o sonho de ter seu próprio triciclo, “mas ainda estou me acostumando com a pilotagem”, explica.
Depois que se aposentou, Brasil Caveira se considera um vagabundo profissional, um homem do mundo. Como sonhador inveterado, ele espera um dia viajar o mundo todo, a três. Ele, dona Edi e o Caveirão, claro. Ele diz que só não pegou a estrada ainda para realizar o sonho porque lhe falta “tempo”, diz esfregando o dedo polegar contra o indicador. Enquanto não encontra “tempo”, Brasil Caveira segue curtido a vida. “Motociclismo pra mim é curtição e viver a vida e eu gosto muito da vida, cara”, resume.