Voz do leitor

Trabalhadores em situação difícil em Igarassu

Leitor denuncia situação de penúria entre os que trabalharam na Fibracoco

Aníbal Matos
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Aníbal Matos
Publicado em 09/05/2011 às 21:44
Foto: Guga Matos/JC Imagem
FOTO: Foto: Guga Matos/JC Imagem
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Nasci em Lisboa, estudei e formei-me em Engenharia Econômica na Áustria. Trabalhei na Suécia e Alemanha até vir para o Brasil (MG) ao serviço da então maior e mais conceituada consultoria alemã. Decidi-me naquela altura sediar-me no Brasil. Estou há dois anos em Igarassu com o objetivo de instalar uma industria inovadora e pioneira.

Profundamente indignado com os fatos que adiante relato, considero meu dever servir de porta voz a 44  pessoas infamemente exploradas e jogadas na mais absoluta miséria pela omissão dos órgãos públicos e  falta de escrúpulos de uma advogada que, não tem relutância em indiferente à fome e absoluta miséria se aproveitar da boa fé e ignorância desses pobres trabalhadores.

Para que tenham uma leve idéia: embora eu pessoalmente nada tenha a ver com o assunto, ontem, algumas das trabalhadoras e um trabalhador procuraram-me na minha sala para me pedirem auxilio.  Tinha sobre uma mesa duas pencas de bananas. Logo me pediram uma e ao lhes dar todas devoraram-nas. Sobre uma cadeira estava um saco com ração para gato e disseram-me “ até como a ração do gato” (sic) ..... dará para entender a gravidade e urgência ??

Há 30 anos, um imigrante Português com muito poucos recursos mas com muito saber, esforço e honestidade implantou em Igarassu a primeira fiação e  tecelagem de fibra de coco do Brasil. Homem generoso, não quis tudo para si: Ensinou também um amigo que passou a ser seu concorrente. Todos os trabalhadores são unanimes em exaltar o seu humanismo e ressaltam até que, mesmo no plano Collor e quando no dia de pagamento foi assaltado e levou um tiro, nem por isso deixou de pagar os  salários pontualmente

Em pouco tempo, a Fibracoco tornou-se uma referencia como fábrica de capachos a nível nacional e, em Igarassu, uma empresa respeitada e prospera que empregava 160 pessoas e garantia o sustento do pequeno comercio que se formou ao seu redor.

Há 9 anos o fundador faleceu. A então gerente chamou de Portugal  o filho mais velho para assumir o cargo de inventariante. Entregou-lhe uma empresa com as contas rigorosamente em dia, um parque de máquinas impecável que incluía ainda a única fiação de sisal em Pernambuco, diversos veículos, um vasto patrimônio e  uma gorda carteira de pedidos.

Uma vez empossado na qualidade de inventariante, tratou de afastar todos os outros herdeiros (irmãos). Negou-se terminantemente a apresentar contas. A partir daí  assistiu-se à derrocada vertiginosa da empresa. O patrimônio foi dilapidado, há sete anos que a empresa deixou de recolher o ICMS, situação que perdura até à presente data, o FGTS assim como outros tributos sociais não é recolhido nesse mesmo período, a parcela dos trabalhadores para o INSS é-lhes descontada dos salários mas não recolhida aos cofres do INSS. Contra-cheques não são dados.

Apesar dos muitos pedidos, as atividades foram encerradas há mais de um mês porque os 44 trabalhadores que restaram não tinham mais condições de suportar sem receberem uma parte dos salários atrasados. O Administrador (inventariante) sumiu e, os trabalhadores ficaram entregues à própria sorte numas situação extremamente dramática.

É gente que  trabalhou em condições degradantes e humilhantes que violam as leis trabalhistas e ferem frontalmente os mais elementares direitos humanos  e que não receberam os seus salários atrasados há muitos meses.

Há 7 anos o fundo de garantia não é recolhido pelo empregador. Muito embora dos salários que receberam lhes tenha sido descontado a parcela destinada ao INSS, o valor não foi recolhido aos cofres do INSS de modo que os trabalhadores colocados no desemprego não podem sequer fazer jus ao seguro desemprego.

A outrora próspera  e respeitada Fibracoco, orgulho de Igarassu,  é hoje uma empresa falida sem possibilidade de recuperação com os próprios meios. Há entre os herdeiros a impressão de que a atual situação só foi possível pela desastrosa administração do inventariante. A sua substituição torna-se, pois, um imperativo, tanto mais urgente quanto a Lei o prevê e, a recuperação da empresa só é possível se o vasto espólio “emagrecer saudável”: Alienar os bens desnecessários ao foco da empresa –fazenda, lotes, casas- e investir na mesma com uma administração competente e íntegra.

A recuperação da empresa impõe-se por vários motivos:

Estão em causa muitos lugares de trabalho

Os direitos dos trabalhadores lançados na mais absoluta miséria tem de ser respeitados (a fome não pode esperar)

Os herdeiros constituíram uma advogada exatamente para tomar as medidas legais cabíveis. Infelizmente, apesar de os próprios trabalhadores terem feito um abaixo assinado implorando o afastamento do inventariante e nomeação dum administrador sério e competente, esta causídiaca tem-se distinguido pela omissão não só aos legítimos direitos dos seus constituintes mas também e sobretudo, à dramática situação dos trabalhadores.

Deixa-se aqui a denuncia e o apelo.

Aníbal Tomás Germano de Matos enviou essa denúncia aos jornais e à presidência da Assembleia Legislativa de Pernambuco.

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