Memória

Depois de 30 anos último Fusca deixará de circular como táxi no Recife

Estudante registra a saída de cena dessa verdadeira peça de colecionador

Fernando Siqueira
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Fernando Siqueira
Publicado em 07/12/2011 às 12:19
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Quem costuma pegar um táxi, especialmente à noite para ir a boate, a balada ou ao cinema em algum canto do Centro do Recife já deve ter se deparado com o táxi de seu Lucas, que chama a atenção não só pelo modelo do carro, um Fusca anos 70, como também pelo detalhe da pintura do veículo, de cor laranja-cegueira. O segredo do taxista para manter seu fusca bem conservado há tanto tempo é simples: ele passa um pano úmido do lado de fora do carro para limpá-lo e garante que cultiva uma certa paixão pelo fusca. Pela manhã, ele conserta algum defeito de seu táxi e à noite sai para rodar com o veículo.

Conhecido por Lucas pelos companheiros de profissão que fazem ponto no Hospital da Restauração, no Derby, o aposentado Amaro Bernardo da Silva é dono do famoso fusca desde 1979, quando abandonou o emprego de caminhoneiro e descobriu a paixão pelo ofício de taxista. Desde então, foram três décadas de história rodando pelas estradas da Região Metropolitana do Recife, totalizando o equivalente a 17 voltas ao mundo. Dentro do carro o taxista coleciona histórias pitorescas, pois ao longo de tanto tempo ele afirma que já viu de tudo. Entre as histórias do velho táxi, seu Lucas recorda de uma mulher grávida que deu a luz dentro do fusca.

O tempo transformou em exclusividade um carro que se destacou por ser o único modelo a rodar na capital pernambucana, depois de antigos trambolhos saírem da frota, disputando espaço com os atuais quatro-portas moderninhos. Apesar disso, há quem prefira viajar no saudoso e nostálgico fusca de duas portas, contemplando os prédios e ruas pelo prazer de andar num carro tão antigo. Além de manter o veículo bem conservado, seu Lucas garante que ele nunca quebrou com passageiro dentro, estando em ótimas condições de circular.

Entretanto, o dedicado motorista não conseguiu recadastrar seu fusca na Companhia de Trânsito e Transporte Urbano-PE (CTTU), como fazem os taxistas todos os anos. Isso porque atualmente, a CTTU não permite mais a circulação de táxis de outrora nas ruas. Hoje a Companhia determina que a frota seja composta por automóveis fabricados após 2005, todos branquelos, que é a cor padrão.

Sem mais razão para operar como táxi, o velho fusca KFJ-6216 preenche todo o tempo livre de seu Lucas, que agora faz planos de rodar com o carro só por amor à direção, sem mais passageiros como nos velhos tempos. A despedida da “estrela” é marcada por aplausos em bares noturnos e olhares curiosos de pessoas da nova geração, acostumadas com os táxis de quatro-portas equipados com GPS e ar condicionado.

*Fernando Siqueira é estudante da escola João Barbalho e pretende cursar jornalismo

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