A manchete “Desigualdade social no Brasil tem o menor nível em 11 anos” é uma notícia boa, mas também é uma notícia ruim. O sociólogo José de Souza Martins definiu o Brasil que foi às urnas em 2022 como “um país de opostos, que se move sem sair do lugar”. É isso.
Quem já brincou com jogos de tabuleiro lembra das penalidades que vez ou outra se impõem pelo caminho dos dados ao avançar: “Volte duas casas” e “volte ao início” são o horror dessas disputas.
Os avanços brasileiros são quase sempre temporários. Quando eu digo que a desigualdade foi reduzida, é para comemorar. Quando se diz que é a menor dos últimos 11 anos, é para ficar atento. Por que é a melhor dos últimos onze anos e não “a melhor da História?”. O país gosta de dar voos de galinha para diversão eleitoral, mas nunca vai muito longe.
Houve avanços nos primeiros governos Lula (PT) e a desigualdade foi reduzida. Mas, isso não foi feito de maneira sustentável, porque sempre era algo dependente dos programas sociais pontuais e não de políticas públicas de desenvolvimento econômico.
Dar dinheiro ajuda o pobre, mas é preciso dar condições para que ele vá além disso. Os programas sociais brasileiros não impulsionam a independência de seus beneficiários, pelo contrário.
A desigualdade é medida pelo Índice de Gini, quanto maior e mais perto de 1.0, maior a concentração de renda e pior é o resultado. Ao longo dos dois primeiros governos Lula, esse índice variou entre 0.583 até 0.543, reduzindo a cada ano. Dilma começou bem, reduzindo ainda mais, até 0.518. Depois, perdeu o controle.
Agora, Bolsonaro pode comemorar que em 2022 entregou o governo também com o índice de desigualdade em 0.518.
O problema é que todos os melhores resultados dos últimos presidentes eleitos foram inflados em busca de votos. O melhor resultado de Lula foi alcançado nos anos eleitorais. O melhor resultado de Dilma foi alcançado em ano eleitoral e o melhor resultado de Bolsonaro foi alcançado em ano eleitoral.
Não há continuidade quando acaba uma gestão e começa a outra. Aumentam-se os gastos com programas sociais e distribui-se mais Bolsa Família ou Auxílio Brasil antes da eleição, a desigualdade diminui e fica parecendo que tudo está bem, mas não está. Porque os gastos para cobrir o buraco nos anos seguintes faz o país voltar várias casas.
Dilma alcançou o Índice de Gini de 0.518 em 2014, no ano eleitoral. Foi uma época em que “se fez o diabo”, congelando conta de energia e gasolina, além de aumentar os repasses do Bolsa Família. Vencida a eleição, Dilma saiu do governo em 2016 deixando o Índice em 0.541, uma piora de quase 5% na desigualdade do país em relação ao ano eleitoral.
Agora, Bolsonaro teve um bom resultado no último ano, mas precisou estourar o teto de gastos, aumentar o valor do Auxílio Brasil e reduzir a energia elétrica e os combustíveis à fórceps. Qualquer semelhança com Dilma de 2014 não é mera coincidência.
A diferença é que Jair não conseguiu se reeleger e deixou a bomba fiscal para o adversário. Lula, que sabe o problema no qual se meteu, briga com o Banco Central dia sim e dia também, derruba teto de gastos e provoca montadoras de veículos para produzirem carros baratos cuja produção possa gerar empregos.
Mas nenhuma das medidas que Lula está perseguindo trará equilíbrio sustentável à economia e reduzirá a desigualdade de verdade. É um pacote de voos de galinha. Seguiremos sendo um país que se move sem sair do lugar.
Comentário de um leitor atento da coluna, sobre a indicação iminente de Danilo Cabral (PSB) para a Sudene: “Esqueça o PSB. Danilo foi indicado para a Sudene por Humberto Costa (PT), sem pedido dos socialistas. Danilo foi abandonado pelo PSB. Desde que terminou a eleição de 2022, o partido que já foi de Eduardo e de Miguel Arraes voltou a ser de um dono apenas: hoje ele se chama João Campos. Ninguém mais terá espaço”, declarou a fonte.
A informação de que o PSB deixou Danilo abandonado e não trabalhou por ele para cargo nenhum no Governo Federal também foi confirmada por outra fonte, esta muito próxima ao ex-deputado que foi candidato socialista ao governo de Pernambuco em 2022. “O PSB abandonou Danilo e ele hoje conversa muito com o PT, diretamente”, garantiu.