Marqueteiro se aproximou da Odebrecht após fazer campanha de ataque contra PPP da Compesa

Publicado em 27/07/2017 às 16:07
Operação da Polícia Federal na Odebrecht, na 23ª fase da Lava Jato. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
FOTO: Operação da Polícia Federal na Odebrecht, na 23ª fase da Lava Jato. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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Operação da Polícia Federal na Odebrecht, na 23ª fase da Lava Jato. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil   O publicitário pernambucano André Gustavo Vieira da Silva, sócio da Arcos Propaganda e um dos presos na nova fase da Operação Lava Jato, nesta quinta (27), segundo o Ministério Público Federal intermediou propinas entre o ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, e a Odebrecht. O interessante é que sua relação com os executivos da empreiteira começaram de forma conturbada: ele conheceu o executivo Fernando Reis, da área de saneamento da empreiteira, quando coordenava uma "campanha de ataque à PPP de esgoto do Recife".  
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A "PPP do esgoto do Recife" na verdade era um contrato de parceria público-privada (PPP) estimado na época em R$ 16 bilhões, assinado entre a Odebrecht e a estatal pernambucana Compesa, ainda no governo Eduardo Campos (PSB). Em 2012, houve uma ofensiva política coordenada por André Gustavo em 2012 durante a campanha a prefeito do Recife do senador Humberto Costa (PT) . Na nova fase da Lava Jato não há nenhuma menção a irregularidade envolvendo Humberto Costa. Trata-se do nexo temporal da atuação do próprio publicitário, que usou o "canal" aberto com a empresa, na fase de críticas, para se aproximar dos executivos. André Gustavo já foi citado em delação da JBS sobre o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB), por indicação de quem teria recebido R$ 1 milhão da empresa dos irmãos Batista.  
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De acordo com o Ministério Público Federal, André Gustavo utilizou a relação iniciada com a empreiteira justamente durante a campanha de 2012, de críticas políticas ao contrato da Odebrecht, para se aproximar dos executivos de primeiro escalão. "ANDRÉ GUSTAVO, publicitário pernambucano residente em Brasília, teria optado por se aproximar do GRUPO ODEBRECHT, por meio de FERNANDO REIS, em razão de ambos já se conhecerem, por ocasião da 'campanha de ataque que, ele [ANDRÉ GUSTAVO], na condição de marqueteiro de Humberto Costa, promoveu contra a PPP de esgoto de Recife'”, afirmou Fernando Reis, em delação.
Em seguida, o MPF enfatiza o nexo temporal entre os fatos: "Fontes abertas corroboram os dizeres de FERNANDO REIS e confirmam a participação de ANDRÉ GUSTAVO em campanha de Humberto Costa e indicam que ele também foi o marqueteiro responsável por dirigir a campanha política que elegeu Pedro Passos Coelho primeiro-ministro de Portugal em 2011, bem como sua campanha de 2015".
Com um canal estabelecido com a Odebrecht, André Gustavo passou a exibir sinais de forte interlocução com Aldemir Bendine. Em junho de 2014, agendou reunião em um hotel em São Paulo. Registra o MPF: "De acordo com FERNANDO REIS, já neste primeiro encontro, ANDRÉ GUSTAVO, após dizer que falava em nome do então presidente do Banco do Brasil, ALDEMIR BENDINE, relatou que o GRUPO ODEBRECHT possuía uma agenda com o Banco do Brasil e demonstrou, de fato, conhecer detalhes, pois narrou três processos de crédito que as empresas do grupo tinham junto ao banco: (1) R$ 600 milhões para o Estaleiro Enseada Paraguaçu, (2) € 150 milhões para financiar a aquisição da EGF (processo de privatização em Portugal) e (3) R$ 2,9 bilhões de crédito para a Odebrecht Industrial".
Foi quando o delator da Odebrecht entendeu que deveria negociar com o publicitário: "FERNANDO REIS declara que, anteriormente ao encontro, não sabia das ligações entre ANDRÉ GUSTAVO e ALDEMIR BENDINE
, mas a riqueza de detalhes com que ele apresentou a agenda do GRUPO ODEBRECHT com o Banco do Brasil e as informações que ele trouxe sobre a relação da empresa com o então Ministro da Fazenda GUIDO MANTEGA demonstraram que ANDRÉ GUSTAVO era, de fato, representante de ALDEMIR BENDINE. FERNANDO REIS
afirma que, posteriormente, teve a confirmação da ligação entre ambos: “Confirmei isso posteriormente, quando (acredito que em julho de 2014) fui tratar com BENDINE sobre pedido de crédito para aquisição de uma empresa em Portugal e, ao final da reunião, mesmo em desconexão com o assunto tratado, ele me disse 'vamos conversar por intermédio de nosso amigo comum', deixando evidente que ANDRÉ GUSTAVO falava em seu nome”.

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