Cardozo: se indicação política é crime, "todos os prefeitos e governadores são organizações criminosas"

Publicado em 15/09/2017 às 16:52 | Atualizado em 15/09/2017 às 17:04
Filipe Ribeiro/JC Imagem
José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça no governo Dilma Rousseff (PT) - FOTO: Filipe Ribeiro/JC Imagem
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José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça. Foto: Filipe Ribeiro/JC Imagem   Ex-ministro da Justiça e advogado da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) durante o impeachment, José Eduardo Cardozo questionou, nesta sexta (15), uma das principais testes do procurador geral da República, Rodrigo Janot, nas denúncias sobre o "quadrilhão" do PT, PP e PMDB: a distribuição de cargos públicos em troca de apoio político. Cardozo afirmou que não se pode dizer que a negociação de cargos entre governos e partidos políticos não pode ser interpretada como crime, mesmo que a pessoa indicada venha a roubar depois. Segundo ele, é preciso provar que a nomeação já foi feita com esse intuito, inclusive com a ciência do governante.  
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  Cardozo está no Recife, nesta sexta, para um evento na área jurídica. E concedeu entrevista ao programa Resenha Política, do NE10. Falou de "exageros" do Judiciário e do Ministério Público, além de avaliar a anulação do acordo de delação premiada da JBS. Ao afirmar que não há irregularidades em nomeações apenas por terem natureza política, foi questionado diretamente se a tese se aplicaria a todos os "quadrilhões" apontados por Janot, do PP, PT e PMDB. E não fez distinção entre qualquer partido político ou governo, sejam nomeações nos governos Lula e Dilma, do PT, sejam do governo Michel Temer (PMDB). "Se você negociar para um partido indicar alguém e isso é um crime, pelo simples fato de que depois esse alguém roubou, eu acho que todos os prefeitos, todos os governadores do Brasil são organizações criminosas. Porque ninguém consegue governar se não tem maioria. Então eu vou fazer um pacto com os partidos políticos e vou indicar pessoas", afirmou.  
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  O ex-ministro continuou o raciocínio e deu tom de indignação com a linha de argumentação de Janot de atribuir crimes ao PT, PP e PMDB pela ocupação de cargos públicos para dar sustentação às gestões federais desde 2002 - e que os peemedebistas, no impeachment, apenas teriam excluído os petistas da organização criminosa que seria "única", segundo Janot. "Aí o cara indica, alguém rouba... 'Ah, mas isso é uma quadrilha porque ele negociou alguém para roubar'. Meu Deus do céu, não está certo isso. Precisa ter governabilidade. Você negocia com os partidos, com as forças políticas, para ocuparem o governo. Agora, para dizer que isso é uma organização criminosa, eu tenho que provar que coloquei aquela pessoa para roubar já com esse intuito. E inclusive o próprio governante o fez para que a pessoa roubasse. Esta prova eu não vi em lugar nenhum".  
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  Em dado momento, a pergunta é se ele não viu prova em nenhum dos ditos quadrilhões do PP, PT e PMDB. E o ex-ministro é assertivo: "Não vi. Pode ser que tenha lá. Mas eu não vi. Eu acho que isso é gravíssimo. É a presunção de inocência as avessas". A seguir, confira a íntegra do programa, transmitido ao vivo, pelas redes sociais do NE10, na tarde de todas as sextas-feiras.  

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