A atuação dos vereadores do Recife, com algumas poucas exceções, varia entre a lacração eleitoral e a nulidade de objetivo público. O problema é que eles custam caro. Tome-se como exemplo o projeto aprovado há alguns dias instituindo o "Dia da Família Recifense".
O autor, Fred Ferreira (PSC), aproveitou a justificativa para agradar seu eleitorado evangélico, ao falar de "família formada por homem e mulher" na justificativa e deixando o próprio projeto sem essa definição específica.
É um jogo de cena esperto. Porque os colegas vereadores aprovam ou desaprovam apenas o texto da lei, não a justificativa, por mais que a julguem correta ou equivocada. Apesar de a justificativa do vereador, que cita apenas um pequeno trecho da Constituição, estar incompleta, é ela que vai ser vendida aos eleitores.
Mas esse ainda não é o maior problema. Triste é imaginar o tempo que os nobres vereadores perderam em comissões, desde 2018 quando esse projeto foi apresentado, discutindo tanto para criar uma data comemorativa local, que aliás já existe em nível internacional e é comemorada no dia 15 de maio.
Enquanto isso, o Plano Diretor da Cidade está atrasado e outros projetos importantes se arrastam. A verdade é que os vereadores do Recife não justificam o preço que pagamos por eles. Os daqui custam aos cofres públicos, entre salários e outros benefícios, R$ 85 mil por mês, cada um. Ao todo, a Câmara Municipal recebe, por ano, algo em torno de R$ 150 milhões para se sustentar.
O orçamento dos vereadores é quase três vezes maior do que o da secretaria de Habitação do Recife (em torno de R$ 56,5 milhões), por exemplo, numa cidade em que o número de famílias sem ter onde morar preocupa.
São famílias recifenses que, aliás, agora vão poder comemorar seu dia especial, aprovado pela Câmara, debaixo de alguma marquise, levando chuva e sol. Vai ser bonito.
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