Coluna Cena Política

A gripe Espanhola, o coronavírus e o que se repete da História

É preciso olhar para a História para perceber o que se repete e o que deveria ser corrigido e não repetido.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 26/03/2020 às 16:51
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Capa da Gazeta de Notícias na época da Gripe Espanhola. Desídia significa "preguiça" - FOTO: Biblioteca Nacional Digital

A História, normalmente, se repete com pequenas alterações. O que o Brasil vive agora, desde a necessidade de enfrentamento da doença, passando pela falta de ação do Poder Público Federal, com a ideia de que não é "nada demais”, até a necessidade de governadores e prefeitos trabalharem sozinhos tentando suprir essa lacuna deixada pelo governo central, já aconteceu.

Faz mais de cem anos. Em 1918 a Europa começou a sentir os impactos da Gripe Espanhola. Por aqui, nem existia Ministério da Saúde, apenas uma diretoria sanitária ligada ao Ministério da Justiça.

As autoridades da época, ao saber sobre o que estava acontecendo do outro lado do oceano, declararam que não havia risco, que era algo distante e não chegaria ao Brasil.

Foi orientado para que o governo brasileiro fechasse os portos, mas acharam que não era necessário.

Até que um navio chamado Demerara desembarcou no… Recife, vindo de Liverpool e Lisboa, deixando passageiros doentes aqui, sem que ninguém soubesse. Depois seguiu viagem passando, logo depois, por Salvador, Rio de Janeiro e Buenos Aires, na Argentina.

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Informe sobre a chegada do navio Demerara ao Recife - Biblioteca Nacional Digital

Outros navios fizeram percurso parecido. Meses depois, o Brasil contabilizava algo em torno de 30 mil mortos pela Gripe Espanhola.

O número é uma estimativa, já que era difícil registrar com exatidão. Há relatos de cadáveres espalhados pelas ruas, no Rio de Janeiro, porque as famílias tinham medo de velar e não sabiam como enterrar as vítimas.

Nas capas dos jornais, no período, muita reclamação pela falta de ação do governo que primeiro dizia que a doença não chegaria, depois passou a dizer que ela iria embora logo.

Todo dia apareciam novos remédios milagrosos. Até cachaça, mel e limão passou a ser uma mistura tida como solução para o problema. Há quem defenda que a Caipirinha nasceu disso.

A verdade é que ninguém sabia exatamente como agir. Depois de um certo tempo, e milhares de mortes, cansados de esperar pelo Governo Federal, prefeitos e governadores teriam começado a improvisar enfermarias, distribuição de remédios e alimentos.

Na época, o problema da superlotação e da falta de leitos era ainda pior. Por causa disso, criou-se uma teoria da conspiração de que um dos principais hospitais atuando na crise, a Santa Casa de Misericórdia, dava um “chá da meia noite” aos doentes para que eles morressem mais rápido e desocupassem o leito.

A maluquice do chá, como sempre acontece no Brasil, virou marcha de carnaval no fim de tudo.

O comércio fechou, as escolas fecharam e de tudo se fez, entre a população, para que o vírus parasse de se espalhar.

Em 1919, tudo voltaria ao normal, na medida do possível.

Nos anos após a pandemia, foi criado o Ministério da Saúde e, ainda mais tarde, o Sistema Único de Saúde.

Hoje, temos melhor estrutura e estamos melhor preparados. Mas duas lições precisam ser entendidas:

A primeira é que nossa mente precisa mudar, porque muitos ainda pensam como naquela época.

A segunda lição é que isso também vai passar e poderemos seguir nossas vidas, em breve.

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Informe sobre a chegada do navio Demerara ao Recife - FOTO:Biblioteca Nacional Digital

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