O relato feito pelo jornal O Estado de São Paulo é de uma reunião tensa. Um chamamento à razão de Luiz Henrique Mandetta para Jair Bolsonaro sobre a gravidade da situação.
A frase é forte, tem o impacto necessário para dar a dimensão do fato: “Estamos preparados para o pior cenário, com caminhões do Exército levando levando corpos pelas ruas, com transmissão ao vivo pela internet?”. Bolsonaro teria calado.
Mandetta disse ainda que se Bolsonaro menosprezar a situação, terá que criticá-lo em público. Bolsonaro disso que o demitiria, nesse caso.
Ainda segundo o jornal, Mandetta afirmou que não vai pedir demissão no meio do caos. Mas, assim que o problema do coronavírus se resolver, coloca o cargo à disposição.
Mandetta teria se comprometido ainda a não usar o sucesso do trabalho para capitalizar politicamente e a não buscar qualquer outra posição de destaque eleitoral.
É um absurdo completo que, na situação em que o mundo se encontra, um ministro da Saúde precise ter essa conversa com o próprio chefe, como se estivesse convencendo uma criança a não fazer bobagem, precisando alertar sobre as consequências dos atos como se disse qual vai ser o tamanho do impacto da palmada que o presidente desobediente vai levar. É frustrante que se precise perder tempo com isso, em se tratando de um adulto.
Mas, essa é exatamente a postura que se esperava do ministro da Saúde, desde o início, quando começou a ser desautorizado pelo presidente e reagia com um sorriso de meia boca, tentando se equilibrar entre a ciência e o menosprezo do chefe por algo que, segundo estudo do Imperial College, da Inglaterra, pode matar no mínimo 44 mil pessoas no Brasil.
Aliás, o estudo do Imperial College de Londres foi o que fez o primeiro ministro Boris Johnson mudar de ideia por lá. Ele tinha o mesmo plano de Bolsonaro, isolamento vertical, os jovens podem se infectar, os idosos ficam protegidos.
A projeção mostrava que o Reino Unido teria 250 mil mortos. Johnson desistiu e depois se isolou. Ele próprio admitiu que foi diagnosticado com a covid-19. Aqui, o mesmo estudo prevê que teremos 44 mil mortos com uma quarentena.
Se fizermos isolamento vertical, como Bolsonaro está defendendo, as mortes podem chegar a 500 mil.
E se nada for feito, com a vida normal sendo tocada, os óbitos podem passar de um milhão.
É essa escolha que Mandetta pôs à mesa para que Bolsonaro a faça.
O presidente resiste, porque acredita que a crise econômica decorrente da pandemia acaba com as chances dele de reeleição em 2022.
Mandetta quis deixar claro pra ele que, se nada for feito, Bolsonaro nem chega presidente em 2022, muito menos teria chance de reeleição com o cenário de centenas de milhares de mortos sob as costas.
Oremos para que o presidente tenha conseguido entender.
Oremos muito.
Porque, o que parece óbvio para o mundo, torna-se folclore na cabeça de Bolsonaro.
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