Bolsonaro acordou destinado a demitir o ministro da Saúde, Luiz Mandetta. A ideia foi reforçada após ver a pesquisa do Datafolha em que pouco mais da metade da população diz que não quer a renúncia do presidente. Era o momento.
Já tinha dito que iria usar a força da caneta. Era o momento.
Quando a notícia se espalhou, os ministros militares tentaram explicar ao presidente o óbvio: ele não teria o apoio de ninguém. Ele insistiu.
Avisos mais diretos começaram a chegar. Primeiro Alcolumbre. O presidente do Congresso mandou um recado objetivo: se Mandetta for demitido, o Congresso vai reagir e não vai ser bom.
Logo depois, como se tivesse sido combinado, o mesmo recado chegou do STF, no mesmo tom.
Os ministros militares repassaram os recados e, só assim, Bolsonaro deve ter entendido que seria o processo impeachment mais rápido da História do Brasil.
Antes de entrar na reunião com os outros ministros, conversou reservadamente com Mandetta e avisou que não iria mais demití-lo. Ambos tentaram se tranquilizar.
Lição do dia: numa democracia, com instituições funcionando bem, a caneta pode muito, mas não pode tudo.
E, sem querer, Bolsonaro já tem um legado: criou um líder.
Após a reunião, Mandetta foi aplaudido nas ruas quando voltou ao ministério, foi aplaudido pelos funcionários nos corredores e fez um pronunciamento à imprensa que começou com uma vibração ao microfone: “Eu disse, é trabalho, trabalho, trabalho”.
Mandetta admitiu que foi para a reunião e deixou os funcionários esvaziando gavetas, tinha quase certeza que seria demitido. Mesmo assim, na volta, deu uma bronca nos auxiliares. “Deviam ter ficado trabalhando”, disse.
“Precisamos de ambiente para fazer o que é preciso”, pediu Mandetta. E tem razão.
O desafio com o coronavírus no Brasil já é grande demais pra ter que se preocupar com a vaidade do Presidente da República.
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