Coluna Cena Política

Pressionado por todos para não demitir Mandetta, Bolsonaro descobriu que a caneta tem poder, mas também se curva

Os ministros militares repassaram os recados e, só assim, Bolsonaro deve ter entendido que seria o processo impeachment mais rápido da História do Brasil.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 06/04/2020 às 22:13 | Atualizado em 07/04/2020 às 9:27
ISAC NÓBREGA/PR
A cloroquina tem sido usada para casos graves e críticos do novo coronavírus no Brasil. - FOTO: ISAC NÓBREGA/PR

Bolsonaro acordou destinado a demitir o ministro da Saúde, Luiz Mandetta. A ideia foi reforçada após ver a pesquisa do Datafolha em que pouco mais da metade da população diz que não quer a renúncia do presidente. Era o momento.

Já tinha dito que iria usar a força da caneta. Era o momento.

Quando a notícia se espalhou, os ministros militares tentaram explicar ao presidente o óbvio: ele não teria o apoio de ninguém. Ele insistiu.

Avisos mais diretos começaram a chegar. Primeiro Alcolumbre. O presidente do Congresso mandou um recado objetivo: se Mandetta for demitido, o Congresso vai reagir e não vai ser bom.

Logo depois, como se tivesse sido combinado, o mesmo recado chegou do STF, no mesmo tom.

Os ministros militares repassaram os recados e, só assim, Bolsonaro deve ter entendido que seria o processo impeachment mais rápido da História do Brasil.

Antes de entrar na reunião com os outros ministros, conversou reservadamente com Mandetta e avisou que não iria mais demití-lo. Ambos tentaram se tranquilizar.

Lição do dia: numa democracia, com instituições funcionando bem, a caneta pode muito, mas não pode tudo.

E, sem querer, Bolsonaro já tem um legado: criou um líder.

Após a reunião, Mandetta foi aplaudido nas ruas quando voltou ao ministério, foi aplaudido pelos funcionários nos corredores e fez um pronunciamento à imprensa que começou com uma vibração ao microfone: “Eu disse, é trabalho, trabalho, trabalho”.

Mandetta admitiu que foi para a reunião e deixou os funcionários esvaziando gavetas, tinha quase certeza que seria demitido. Mesmo assim, na volta, deu uma bronca nos auxiliares. “Deviam ter ficado trabalhando”, disse.

“Precisamos de ambiente para fazer o que é preciso”, pediu Mandetta. E tem razão.

O desafio com o coronavírus no Brasil já é grande demais pra ter que se preocupar com a vaidade do Presidente da República.

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