Coluna Cena Política

Aposta de Bolsonaro é na Economia e no longo prazo. Impacto de mortes é o que definirá seu destino

É senso comum que um presidente fazendo e falando o que Bolsonaro tem feito e falado nas últimas semanas não teria como manter 30% de aprovação popular. Mas ele mantém.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 12/04/2020 às 5:00
ISAQUE NÓBREGA/PR
Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ministro da Economia, Paulo Guedes - FOTO: ISAQUE NÓBREGA/PR

Difícil dizer como sairá Jair Bolsonaro dessa crise. O presidente fez tudo o que era possível apostando em confronto, perdeu popularidade no curto prazo e construiu para si um isolamento difícil de se ver num Chefe de Estado. Mas o está suportando, talvez porque sua aposta, no longo prazo, ainda esteja dentro das metas estabelecidas.

Convenhamos, é senso comum que um presidente fazendo e falando o que Bolsonaro tem feito e falado nas últimas semanas não teria como manter 30% de aprovação popular. Mas ele mantém. Agora, ao tomar para si a responsabilidade pelo pagamento de R$ 600,00 de auxílio no que ficou conhecido como “Coronavoucher” ganhou uma oportunidade que membros da equipe dele já perceberam e já o avisaram para aproveitar bem.

O professor e sociólogo José Arlindo Soares fez uma projeção do impacto que essa verba extra já está tendo na vida das pessoas. “Em PE, a média é de 40% da população vivendo da transferência de renda em programas como o Bolsa Família. O valor médio recebido no programa é de R$ 168,00. Por três meses, essas pessoas vão receber R$ 432,00 a mais. Agora multiplique isso pelo número de famílias e você terá um valor alto investido na renda dessas pessoas”, explica.

Para exemplificar, num município como Arcoverde, cerca de 27% vivem de transferência de renda. Normalmente, no total, cerca de 19 mil pessoas dependem do Bolsa Família na cidade e recebem ao todo R$ 3,2 milhões. Com o “Coronavoucher” esse montante sobe para R$ 11,4 milhões.

Não é por acaso que o Governo Federal se apressou em fazer propaganda explicando que o dinheiro não é dos governadores e dos prefeitos. O capital político, principalmente no Nordeste, ainda é incalculável. “Não será suficiente para acabar, mas dependendo de como for conduzido, deve arrefecer a impopularidade dele na região”, calcula José Arlindo.

A opinião é compartilhada pelo ex-ministro e ex-governador Mendonça Filho (DEM), que vai além e acredita que nada impede o Governo Federal de ampliar a medida por mais alguns meses, dependendo do impacto do coronavírus e do tempo que as pessoas forem ficar impedidas de trabalhar normalmente. “Inicialmente são três meses, mas o governo pode fazer uma ampliação, mesmo que faça uma redução gradual do valor, até que a vida das pessoas volte ao normal. Isso também estenderia o benefício político. Mas, o importante é que as pessoas estariam mais seguras para voltar ao trabalho na hora certa”, disse.

Outro que faz a análise desse momento é o também ex-ministro e ex-deputado Raul Jungmann. Para ele, outros aspectos precisam ser considerados, como o fim do período de Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre e Dias Toffoli a frente da Câmara, do Senado e do STF, respectivamente. Os três têm funcionado como um freio para Bolsonaro e ainda é difícil dizer como os substitutos trabalharão esse relacionamento. E tem a retomada da economia. “Nós vamos ter recessão, mas o gráfico é em “V", ou seja, caímos agora e voltamos a subir na mesma medida. Então, a previsão é de uma queda de 4%, mas teremos crescimento de 4% nos anos seguintes, até 2022 e, no acumulado esse crescimento pode chegar a 6%”, explica.

Vale lembrar também que a energia da equipe econômica para as reformas deverá ser redirecionada e o objetivo será a recuperação econômica. Será preciso reaquecer a economia e isso se faz também colocando dinheiro nas mãos das pessoas. Portanto, não é só a Cloroquina que vai dar ou tirar popularidade de Bolsonaro, sendo ou não a solução para a covid-19. Não é só o coronavírus ser uma “gripezinha” ou uma tragédia o que define se Bolsonaro segue ou não na presidência.

O que definirá isso, principalmente, será a Economia.

E, hoje, o acumulado das perspectivas aponta um cenário que pode ser muito mais positivo do que se imagina para o presidente.

Resta saber, apenas, como as mortes pelo coronavírus, que crescem a cada dia, vão impactar nesses planos.

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