Coluna Cena Política

Os nomes para substituir Mandetta, se ele for demitido, até o momento

Encontrar um médico que ignore a ciência e seja aceito pela classe científica ou agrade Bolsonaro, sem desagradar os técnicos, já é uma tarefa complicada em tempos normais. Na crise então...

Igor Maciel
Cadastrado por
Igor Maciel
Publicado em 14/04/2020 às 13:41 | Atualizado em 15/04/2020 às 10:32
CAROLINA ANTUNES/PR
Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) - FOTO: CAROLINA ANTUNES/PR

Os nomes que foram apresentado a Bolsonaro, até agora, para substituir Mandetta no Ministério da Saúde podem trazer mais problema do que solução. A lista que se conhece, até esta terça-feira (14), contém quatro nomes e todos podem provocar conflitos ou com o próprio presidente ou com a comunidade científica. Mas, já fala-se em até 10 nomes que estariam sendo monitorados.
 
Quem realmente trabalha ativamente para assumir o Ministério é o deputado Osmar Terra (MDB), que já foi ministro da Cidadania e acabou demitido. Ele é médico, mas não exerce a profissão há muitos e muitos anos. Costuma comparar o coronavírus com o H1N1 e defende, como Bolsonaro, que não é preciso fazer distanciamento social no Brasil e as pessoas poderiam voltar a trabalhar, ignorando a ciência e a OMS. A classe médica rejeita Terra fortemente e haveria problema para formar uma equipe no ministério com ele no comando.
 
Outro nome é o de Nise Yamaguchi. Ela é médica, oncologista, e defende fortemente o uso da Hidroxicloroquina que Bolsonaro tenta vender como uma possível solução para o coronavírus. Também não é bem aceita pela classe médica, principalmente por causa da defesa do medicamento para o qual não existe comprovação científica.
 
Nas últimas horas outros dois nomes começaram a circular. Um deles é o de Ludhmila Abrahão Hajjar, cardiologista do Incor. A profissional seria aceita pela comunidade médica e tem boas referências. O problema: ela é contra o uso da Hidroxicloroquina e já deixou isso claro em entrevistas. Ludhmila estava no grupo que se encontrou com Bolsonaro recentemente em Brasília. Perguntada sobre a discussão em torno do polêmico remédio, naquele dia, disse que alguns colegas defendem o medicamento com paixão, mas sem comprovação científica e que um dos efeitos colaterais da Hidroxicloroquina é arritmia cardíaca. "Quando a pessoa está com o coração normal é mais difícil que a arritmia aconteça. Mas a gente tem que lembrar que até 40% dos pacientes infectados pela Covid-19 têm algum tipo de injúria ao sistema cardiovascular”, disse ela, recentemente, em entrevista à Folha de São Paulo.
 
O quarto nome sendo analisado é o do médico e atual presidente do Conselho do Hospital Albert Einstein, Cláudio Lottenberg. É o que mais se aproxima do pensamento de Bolsonaro, embora com muitas restrições, em relação ao isolamento social e ao uso da hidroxicloroquina. Os problemas: ele já criticou Bolsonaro em entrevista, quando disse que o presidente não pode brigar com os governadores no meio da crise (mas também criticou os governadores). Fora isso, já admitiu que tem pretensões políticas, em São Paulo. Preocupação é que ele venha a assumir o ministério e comece a fazer campanha com objetivos particulares, tentando agradar um futuro eleitor.
 
Encontrar um médico que ignore a ciência e seja aceito pela classe científica ou agrade Bolsonaro, sem desagradar os técnicos já é uma tarefa complicada em tempos normais.
 
Piora em um momento de crise como esse.
.
.
 

Comentários

Últimas notícias