Era 2016 e um deputado federal resolveu assumir uma briga contra a ciência. Ele insistiu até conseguir aprovação de uma tal “Pílula do Câncer”. O medicamento, produzido no Brasil, seria a salvação de milhares e milhares de doentes no mundo inteiro, segundo esse deputado. Tratava-se da fosfoetanolamina.
Na época, depois de muita confusão, não só foi aprovada no Congresso, como foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff (PT). A tal “Pílula do Câncer”nunca foi produzida realmente, mas serviu para que o deputado que a defendia fizesse muito barulho nas redes sociais e na imprensa. Ficasse mais famoso. Virou uma bandeira de marketing.
No meio do processo, descobriu-se um escândalo. A “Pílula do Câncer" foi desenvolvida pelo professor aposentado da USP Gilberto Chierice, já falecido. Na época, e-mails interceptados pela Operação Lava Jato mostraram que o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) propôs um contrato ao professor para dividir a propriedade intelectual do medicamento. O professor negou que tivesse aceitado a proposta.
Mas as desconfianças sobre o remédio eram imensas tanto da ciência quanto da polícia e dos parlamentares que tinham alguma responsabilidade com estudos sérios.
O maior opositor ao medicamento milagroso dentro do Congresso foi um sujeito chamado Luís Henrique Mandetta (DEM), deputado na época.
O maior defensor da pílula que resolvia tudo? O então deputado Jair Messias Bolsonaro.
O curioso é que o argumento de Bolsonaro, na época, era idêntico ao de hoje, com a hidroxicloroquina: "se pode salvar vidas, pra que ficar limitado, esperando pela ciência?", repetia sempre que podia.
A substância fosfoetanolamina "jamais passou por qualquer estudo clínico que comprovasse sua eficácia e segurança", informou a Anvisa recentemente. Apesar de todo o carnaval feito na época pelo hoje Presidente da República, ninguém nunca comprovou que ela funcionasse. A pílula não salvou doentes, só ajudou a dar holofotes a Bolsonaro.
Coincidências não existem, existem padrões de comportamento, pra dizer o mínimo.
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