O "milagre" em pílulas

A Hidroxicloroquina não é o primeiro remédio "milagroso" que Bolsonaro defende

A substância fosfoetanolamina "jamais passou por qualquer estudo clínico que comprovasse sua eficácia e segurança", informou a Anvisa recentemente.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 19/05/2020 às 11:23
Foto: Anvisa/Divulgação
Anvisa diz que a substância nunca teve eficácia comprovada - FOTO: Foto: Anvisa/Divulgação

Era 2016 e um deputado federal resolveu assumir uma briga contra a ciência. Ele insistiu até conseguir aprovação de uma tal “Pílula do Câncer”. O medicamento, produzido no Brasil, seria a salvação de milhares e milhares de doentes no mundo inteiro, segundo esse deputado. Tratava-se da fosfoetanolamina.

Na época, depois de muita confusão, não só foi aprovada no Congresso, como foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff (PT). A tal “Pílula do Câncer”nunca foi produzida realmente, mas serviu para que o deputado que a defendia fizesse muito barulho nas redes sociais e na imprensa. Ficasse mais famoso. Virou uma bandeira de marketing.

No meio do processo, descobriu-se um escândalo. A “Pílula do Câncer" foi desenvolvida pelo professor aposentado da USP Gilberto Chierice, já falecido. Na época, e-mails interceptados pela Operação Lava Jato mostraram que o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) propôs um contrato ao professor para dividir a propriedade intelectual do medicamento. O professor negou que tivesse aceitado a proposta.

Mas as desconfianças sobre o remédio eram imensas tanto da ciência quanto da polícia e dos parlamentares que tinham alguma responsabilidade com estudos sérios.

O maior opositor ao medicamento milagroso dentro do Congresso foi um sujeito chamado Luís Henrique Mandetta (DEM), deputado na época.

O maior defensor da pílula que resolvia tudo? O então deputado Jair Messias Bolsonaro.

O curioso é que o argumento de Bolsonaro, na época, era idêntico ao de hoje, com a hidroxicloroquina: "se pode salvar vidas, pra que ficar limitado, esperando pela ciência?", repetia sempre que podia.

A substância fosfoetanolamina "jamais passou por qualquer estudo clínico que comprovasse sua eficácia e segurança", informou a Anvisa recentemente. Apesar de todo o carnaval feito na época pelo hoje Presidente da República, ninguém nunca comprovou que ela funcionasse. A pílula não salvou doentes, só ajudou a dar holofotes a Bolsonaro.

Coincidências não existem, existem padrões de comportamento, pra dizer o mínimo.

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