Jair Bolsonaro amanheceu dizendo a apoiadores que eles teriam que sentir a crise na pele para entender o problema. Não foi muito específico, mas o comentário teve tom de desabafo. Depois, seguiu para uma reunião com os presidentes da Câmara e do Senado, em seguida para uma reunião com os governadores.
No dia seguinte à divulgação de uma pesquisa que mostra queda ainda maior na própria aprovação e aumento na rejeição, chegando em 50%, segundo a XP/Ipespe, o presidente estava manso.
Manso, no sentido bíblico, para ficar mais próximo do apoio religioso que o presidente sempre busca. Após sentir a “vaca indo ao brejo”, Bolsonaro pode ter aberto a Bíblia e lido Provérbios 15:1, onde diz: “A resposta calma desvia a fúria, mas a palavra ríspida desperta a ira”.
Ou simplesmente, o mais provável, deve ter visto a pesquisa mostrando que desde que menosprezou a covid-19 em março todos os seus números positivos caíram. Deve ter percebido nos gráficos que a mudança de direção dos apoios, quando deixou de ser “algo diferente” para tornar-se igual aos anteriores com taxa de rejeição aproximando-se de Michel Temer (MDB), foi exatamente após o pronunciamento da “gripezinha”.
Deve ter visto também que 76% das pessoas aprova o isolamento social e quase 60% quer que ele dure o quanto for necessário. Mesmo o marinheiro ruim sabe quando o mar está agitado demais.
Pode ter sido algum versículo da Bíblia falando em mansidão. E pode ter sido medo. Quem vai saber.
Fato é que Bolsonaro estava calmo na reunião com os governadores, tratando todos com a formalidade que o cargo exige, falando em união de esforços e dizendo que ainda não se sabe a dimensão exata do problema. Parecia um chefe de Estado de verdade.
Procuremos algum versículo da Bíblia que fale na duração da mansidão. Sobre ela ser permanente. Estamos precisando.
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