Foi feio

Caso Miguel: defesa erra na estratégia e polícia erra ao permitir privilégio

A Polícia deve garantir a segurança de todos os envolvidos, sem privilégios. A defesa deveria mostrar que a cliente está disposta a responder sem apelar para privilégios por condição social ou política. Ambos falharam.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 29/06/2020 às 11:50 | Atualizado em 29/06/2020 às 12:05
WELLINGTON LIMA/JC IMAGEM
Mirtes Renata, mãe do menino Miguel, foi até o local para esperar a ex-patroa Sari Côrte Real, indiciada por homicídio culposo - FOTO: WELLINGTON LIMA/JC IMAGEM

Uma das discussões em Brasília, nos bastidores, atualmente é se o presidente da República, Jair Bolsonaro, deve ter o direito de escolher quando dará depoimento na investigação sobre interferência na Polícia Federal e se o fará pessoalmente ou por escrito. Trata-se do presidente da República. Por isso, chama atenção que a polícia pernambucana tenha dado tratamento especial, que é polêmico até quando se fala do presidente, para a primeira-dama de Tamandaré, investigada no inquérito sobre a morte do menino Miguel Otávio, que caiu do nono andar de um prédio na região central do Recife quando estava sob os cuidados dela.

A informação que se tem é de que foi um pedido da defesa, para proteger a cliente deles. Isso fez com que o delegado abrisse a delegacia duas horas mais cedo do que o normal, para poder receber a investigada e o marido dela, o prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB), que acompanhava a esposa.

O expediente na delegacia começa às 8h. A unidade, porém, abriu as portas para Sarí Côrte Real antes das 6h. Evitando imprensa e até a mãe do menino Miguel, que esperava encontrar a mulher que estava responsável pelo filho dela quando ele morreu.

A delegacia abriu mais cedo pra evitar o constrangimento da primeira-dama. Esse é o comportamento da polícia com todos os indiciados e presos? Agendar horário para preservar os indiciados é algo comum?

Para as pessoas que estão indignadas com o crime, é curioso, pra dizer o mínimo, que a Secretaria de Defesa Social, do governo de Pernambuco, do PSB, faça esse tipo de concessão para a esposa de um prefeito do PSB. Por mais que tenha sido uma decisão do delegado, por mais que tenha sido algo isolado, por mais que tenha tido a melhor das intenções, é impossível não fazer essa conexão.

Fica a impressão, mesmo imaginando que essa não foi a intenção, de favorecimento. Do ponto de vista da defesa, inclusive, foi uma péssima estratégia.

A polícia tem o dever de proteger ela, a investigada, como tem o dever de proteger a mãe do menino e todas as outras testemunhas no inquérito, sem tratamento especial para ninguém. Ficou feio. Muito feio.

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