O jogo de luz e sombra que os militares do Ministério da Saúde tentam fazer com as mortes por covid-19 tem como objetivo jogar a população contra os governadores.
Ninguém com mais popularidade do que o presidente ficou a salvo do uso da máquina federal como arma. Os gestores estaduais que conseguiram melhorar a própria aprovação durante o combate ao coronavírus não passariam incólumes.
Bolsonaro trabalha com um horta onde planta e cultiva narrativas que lhe são favoráveis de forma despretenciosa, mas se alimenta delas sempre que necessário. O empresário bilionário Carlos Wizard saiu do governo antes mesmo de assumir o cargo na secretaria para a qual foi convidado dento do Ministério da Saúde, mas deixou sua sementinha plantada na horta de Bolsonaro: disse que governadores estariam inflando números para receberem mais ajuda do Governo Federal.
Não precisa ser verdade, mas com tempo e água, a semente vira algo que pode ser aproveitado. Os frutos surgem quando, aqui e ali, as pessoas começam a desconfiar dos governadores e achar que, na verdade, o que eles queriam sempre foi dinheiro. Wizard foi embora, mas serviu ao propósito.
Não tem como esconder mortes, os corpos foram enterrados, os registros estão nos hospitais e o problema do Brasil não é aumentar, mas diminuir. A subnotificação é o que abunda no Brasil.
Também não faz sentido a ideia de que governadores estão aumentando mortes para ganhar dinheiro do Governo.
Primeiro porque o critério não existe no País. O Governo Federal não repassa verbas, diretamente, por cadáver registrado. Segundo, porque a União tem trabalhado para segurar o dinheiro mesmo. Menos de 30% das verbas previstas para o combate à covid-19 foram realmente repassadas pelo Ministério da Saúde.
Mas é narrativa.
E narrativa não precisa fazer sentido, nem ser verdade, na inexistência de caráter fundamental que virou regra há alguns anos por aqui.
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