Carência birrenta e mimada

Felipe Neto "para presidente" e o Brasil como elogio à estupidez

Youtuber é o novo "candidato a presidente da República" das redes sociais. Brasileiro é carente, mimado e birrento. Enquanto se afoga, sonha com uma boia verde com estrelinhas cor de rosa e, quando não consegue, prefere se abraçar com um crocodilo.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 16/07/2020 às 11:50 | Atualizado em 16/07/2020 às 11:51
REPRODUÇÃO/THE NEW YORK TIMES
O presidente da República, da vez, no Twitter - FOTO: REPRODUÇÃO/THE NEW YORK TIMES

O brasileiro é carente. E não é, nem mesmo, algo minimamente raciocinado quando você tem consciência de que está agindo por impulso, mas acredita que pode dar certo.

Não. O brasileiro é birrento, mimado e inconsequente por causa dessa carência.

É a carência de quem está morrendo afogado e se abraça com um crocodilo, sabendo que é um crocodilo, porque não encontrou uma boia verde com estrelinhas cor de rosa do jeito que sonhava. É a carência do chute no balde. Do "qualquer coisa serve, se não for como eu queria".

Não é a primeira vez que abordo isso na coluna. Em outra ocasião a referência era ao doutor Dráuzio Varella.

O médico que também é apresentador de programa de TV chamou atenção no início da pandemia por causa de uma entrevista em que se emocionou durante a gravação.

Em minutos estava sendo escalado, pelas redes sociais, para ser candidato a Presidente da República ou, no mínimo, ministro da Saúde. Maluquice? Não para quem apoia Bolsonaro. O "gabinete do ódio" bolsonarista logo abriu guerra contra o médico nas redes.

Em algumas horas, após a entrevista, toda a internet se dividia entre lançar Dráuzio para ser o chefe do Executivo Nacional ou acabar com a carreira dele. Uma coisa ou outra e quem não decidir rápido está se omitindo e é "isentão". Mundo estranho.

Esta semana, o youtuber Felipe Neto, com seus milhões de seguidores, boa equipe de edição e língua afiada, produziu um vídeo para o New York Times. O vídeo é performático e pouco profundo, mas atende de forma genial ao que o jornal americano mais preza neste momento: formas criativas e lacradoras de chamar atenção em redes sociais.

Atende também a outra exigência editorial de lá, que é falar mal de Donald Trump e relacionar Bolsonaro como subproduto de Trump.

Neto foi perfeito lá e cá. Esculhambou o presidente brasileiro em 80% do vídeo para finalizar dizendo que se Trump for reeleito nos EUA vai fortalecer Bolsonaro no Brasil.

O resultado? Claro! Minutos depois que a produção estava no ar, começaram as menções para que Felipe Neto fosse "candidato a presidente da República".

Atores, jornalistas e outros influenciadores digitais entraram na onda. Políticos, inclusive pré-candidatos à presidência passaram a elogiar e republicar o vídeo, tentando pegar carona na popularidade.

Logo, a pronúncia do inglês, a visão moderna e a desenvoltura do youtuber viraram requisitos já preenchidos por ele para ocupar o cargo de presidente. Felipe Neto, óbvio, repostou todos os elogios, alimentando a maluquice e melhorando sua própria imagem nas redes para, em seguida, lembrar a todos que, por pouco, não terá idade para ser candidato a presidente em 2022. É muito novo ainda. Só por isso.

A maluquice acabou? Não. Ela pode não ter limites.

Houve então quem propusesse mudar a Constituição para que ele possa ser candidato.

A boia preta feita da câmara de ar do pneu de um caminhão serviria para não nos afogarmos. Mas, se ela não for verde com estrelinhas cor de rosa, a gente se abraça com um crocodilo e acredita que vai dar certo.

O Brasil é um elogio à estupidez.

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