Um pé em cada século

O PCdoB está dividido entre um grupo que busca modernizar o partido e outro que acredita numa revolução socialista no Brasil

O PCdoB às vezes parece uma tia-avó puritana obrigada a conviver com a modernidade e com dificuldades para admitir que navega nessa onda. Algo como "eu entro na internet, mas só vejo o site da igreja".

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 20/07/2020 às 11:30
GILSON TEIXEIRA/SECAP
Flávio Dino já teve o nome cotado para disputar a Presidência em 2022 - FOTO: GILSON TEIXEIRA/SECAP

O PCdoB tem um jeito atabalhoado de fazer as coisas. Não por inteira culpa da presidente nacional, Luciana Santos, que é vice-governadora de Pernambuco. Ela, normalmente, é quem surge pra desfazer as confusões criadas pelos outros membros. Somente em 2020 já são dois episódios.

No início do ano, o partido "mudou de nome, mas não mudou de nome”. Internamente foi criado por uma ala do partido o nome "Movimento 65", para substituir o “comunista”, modernizar a sigla e se livrar da foice e do martelo no símbolo.

Quando a informação foi para a imprensa, a outra ala correu para “desmentir”. A explicação dada é que o nome ia continuar sendo PCdoB, mas quando alguém fosse ser candidato, o faria usando a nova plataforma que se chamaria Movimento 65.

PCdoB seria algo como o nome oficial e Movimento 65 um tipo de “nome fantasia”.

É lógico que a história não colou.

Agora, surge uma suposta negociação para fundir o PCdoB com o PSB e criar o que alguns estão chamando, internamente, de "MDB da esquerda”. Seria uma versão socialista da colcha de retalhos que é o partido de José Sarney, Michel Temer e Jarbas Vasconcelos.

Dentro do PSB houve uma certa indignação pelo assunto ser exposto dessa maneira. Nas duas confusões, a ideia saiu de Flávio Dino (PCdoB). Ele quer ser candidato a presidente, mas quer um partido mais robusto e sem o estigma de comunista para enfrentar os novos tempos.

Há uma ala reformista no partido e uma ala tradicional. Por isso o PCdoB às vezes parece uma tia-avó puritana obrigada a conviver com a modernidade e com dificuldades para admitir que navega nessa onda. Algo como “eu entro na internet, mas só vejo o site da igreja”.

Um lado quer conduzir o partido para algo mais viável e outro ainda acha que vai promover a revolução socialista no Brasil.

O problema é que o PCdoB não está em condição de viver divisões. É bom lembrar que a sigla só não foi extinta em 2019 porque conseguiu se fundir com o PPL, um outro partido que também seria extinto por não cumprir a cláusula de barreira da eleição de 2018.

O PCdoB fez oito deputados federais e quem não fizesse nove, no mínimo, perderia o direito às verbas eleitorais e partidárias em 2020.

Escaparam por pouco. E se continuarem agindo dessa forma confusa, terão dificuldade para escapar de novo.

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