"O bonde passa cheio de pernas", diz Drummond num trecho do "Poema de sete faces", de 1930.
Em política, o bonde está sempre passando, cheio de pernas, e é preciso estar atento para não viver apenas como espectador dos acontecimentos, aguardando ser atingido, como que por um raio, com a graça de um reconhecimento sincero e honesto.
Esta semana que se inicia será de muitas definições. É uma pena que ao menos em sua perspectiva, nenhuma grande surpresa se avizinhe, visto que o time dos coadjuvantes é imenso, enquanto o de grandes condutores políticos está sem ninguém, logo em Pernambuco, um estado tão acostumado ao protagonismo.
Entre a falta de capacidade de alguns para liderar e a preocupação dos últimos protagonistas em não permitir que seus espaços pudessem sem ocupados por novos personagens, estamos numa entressafra de doer o coração.
Não é preciso exemplo maior do que uma simples observação sobre as duas maiores dificuldades políticas das eleições municipais: definir palanques e apresentar propostas. Tem sido complicado.
O poema de Drummond, completo, é sobre a inadequação de um sujeito, isolado, no meio da multidão. Os bondes, as pernas, as casas. "Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução", lembra o poeta, garantindo que só poesia no resolve. É preciso agir.
Na política é igual.
Comentários