Eleições 2020

As obras que "surgem" em período eleitoral e a ineficiência disfarçada de estratégia

População sofre por anos esperando equipamentos cujos projetos e obras se arrastam, mas destravam, coincidentemente, às vésperas das eleições. Habitacional anunciado ontem por Geraldo Julio no Recife, por exemplo, foi solução prometida em 2012.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 21/08/2020 às 12:00 | Atualizado em 21/08/2020 às 12:05
LUISI MARQUES/JC IMAGEM
PALIATIVO Pagamento emergencial na pandemia da covid a mais de 65 milhões de brasileiros reduziu de forma inédita e abrupta a pobreza - FOTO: LUISI MARQUES/JC IMAGEM

Fossem os prefeitos em fim de mandato avaliados pela eficiência, salvariam-se poucos. Talvez nenhum.

Em 2020, nos últimos meses desse segundo semestre, quando o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), já estará pronto para limpar as gavetas, serão inauguradas duas obras.

Fossemos coerentes, devia ser proibido fazer evento de inauguração para celebrar o Geraldão e o Teatro do Parque.

Os equipamentos merecem. Merecem muito.

A gestão municipal não.

Venderam-se prazos que nunca foram cumpridos ao longo de quase oito anos.

No caso do Geraldão, além dos prazos, o valor da obra foi de R$ 38,9 milhões para R$ 45 milhões.

Houve problemas com falta de operários e paralisações.

No Teatro, até o Ministério Público foi acionado.

Incrível, quase inacreditável, é que, após toda dificuldade, as reformas ficam prontas exatamente no fim do último ano de gestão, bem pertinho da eleição, na qual se quer emplacar sucessor. É como se as crises e a deficiência de verbas vivessem de olho no calendário do TSE.

Mais incrível é o prefeito do Recife, Geraldo Julio, anunciar ontem, faltando quatro meses pro fim do mandato, a construção de 600 apartamentos para moradores da comunidade do Bode.

"Quero assumir um compromisso com os que moram aqui na comunidade do Bode. Meu primeiro ato como prefeito na área de habitação será mudar essa realidade", prometia o candidato Geraldo, no guia eleitoral, em setembro de 2012.

A promessa era de 2012, foi repetida em 2016, convênio assinado em 2018. Mas só saiu agora, na véspera da eleição de 2020.

Agora imagine o cidadão, quase oito anos vivendo em palafitas, em condições sub-humanas, esperando que tudo se resolva só duas eleições depois. Isso deveria ser exemplo de ineficiência e não de orgulho, mas o gestor faz até foto com trator ao fundo.

Jaboatão é outro desses casos curiosos de obras que parecem obedientes ao calendário eleitoral. Após mais de três anos e meio de gestão, o prefeito, Anderson Ferreira (PL), anunciou "o maior parque urbano da RMR". E garantiu que vai entregar até o fim do ano.

As obras, não por acaso, acontecem bem no meio da sua campanha de reeleição.

E o anúncio, claro, só foi feito depois que o Congresso garantiu que as eleições seriam mesmo esse ano.

O tempo das realizações deveria se curvar às necessidades.

Ao invés disso, temos o sacrifício eleitoral da eficiência como política pública.

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