Crise, onde?

Deputados de PE resolvem que é adequado gastar quase R$ 8 mi por mais espaço de trabalho. Sem crise

Então, enquanto a população sobrevivia de Auxílio Emergencial, que por sinal acaba esse mês, e os governadores contavam moedas para comprar respiradores, a Alepe estava em condições de fazer "caixinha" pra gastar no fim do ano?

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 28/12/2020 às 10:51 | Atualizado em 28/12/2020 às 11:00
FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
Deputados estaduais votaram de forma remota. Não houve transparência na divulgação dos votos - FOTO: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

A "ninharia" de R$ 7,7 milhões gastos para ampliar o setor administrativo da Assembleia Legislativa de Pernambuco, com a compra de imóveis, é apenas a primeira parte do problema do problema específico. Ainda serão gastos alguns milhões de reais com projetos e reforma dos prédios.

A Casa justifica dizendo que vai economizar no longo prazo com alugueis e que o dinheiro é fruto de economia feita pela gestão nos últimos meses. 

Caso estivéssemos em outra época, seria mais ou menos louvável. Como passamos por uma pandemia desde março, a questão que fica é: enquanto todo mundo sofreu, perdendo empregos, a inflação aumentou, há mais pessoas vivendo nas ruas, a saúde quase entrou em colapso, a Alepe estava recebendo dinheiro suficiente para pagar as contas e ainda fazer um "pé de meia" que serviria para comprar imóveis no fim do ano?

Interessante.

Repassando, então, pra ficar mais claro. Enquanto a população sobrevivia de Auxílio Emergencial, que por sinal acaba esse mês, e os governadores contavam moedas para comprar respiradores, a Alepe estava em condições de fazer "caixinha" pra gastar no fim do ano?

É isso?

Existe algo de muito errado na forma como se repassa dinheiro para as casas legislativas. A impressão é de que se trata do maior desperdício de verba pública. E essa impressão, errônea, acaba sendo reforçada por atitudes desse tipo.

Deputados legislam de costas para o povo e para a realidade que os atinge diretamente todos os dias.

Bom exemplo tem. Em 2009, o então vereador de Caruaru Rogério Menezes, presidente da Câmara Municipal, conseguiu em sua gestão economizar R$ 1 milhão. No fim do ano, acertou com a prefeitura para devolver o dinheiro, que chega às casas legislativas através do duodécimo. A verba, lá, foi utilizada para obras de saneamento e calçamento.

A Alepe, como a maioria dos legislativos do país prefere o mau exemplo de gastar o que tiver disponível.

Com o que o dinheiro que a Alepe vai gastar com imóveis poderia ter sido gasto? Na fase mais aguda da pandemia, quando pessoas no Brasil chegaram a morrer sem um respirador hospitalar, os R$ 7,7 milhões poderiam comprar quase 50 respiradores. Daria pra montar algumas alas de UTI.

A estimativa é baseada nos R$ 162,4 mil por cada respirador que o governo da Bahia comprou, na época.

Agora, quando a preocupação é com a vacina, daria pra ajudar bastante o estado de PE. O preço estimado da Coronavac fica em torno de R$ 60,00 por dose. No caso da Pfizer, com tecnologia diferente, o preço pode chegar a R$ 160,00. 

Com o dinheiro que a Alepe vai gastar para ganhar espaço de trabalho, o governo de PE poderia adquirir, por conta própria, 128 mil doses da Coronavac e até 48 mil doses da Pfizer. Não resolveria o problema, mas ajudaria bastante.

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