Não é negacionista

Bolsonaro é um "fingidor", brincando com a vida das pessoas enquanto tenta sobreviver politicamente

Comprar vacinas de forma lenta, sem logística adequada e sem conseguir aplicar doses em tempo hábil não prova que Bolsonaro é negacionista. Prova que ele é incompetente.

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Igor Maciel

Publicado em 01/03/2021 às 11:10
Análise
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Bolsonaro é um fingidor, tal qual o poema de Fernando Pessoa, "que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente". 

O deputado de baixo clero que serve de manequim para a faixa de presidente atualmente é um negacionista de araque.

Nem isso ele é, de verdade.

Fosse, de verdade, não estaria comprando vacinas, por exemplo.

Comprar vacinas de forma lenta, sem logística adequada e sem conseguir aplicar doses em tempo hábil não prova que Bolsonaro é negacionista.

Prova que ele é incompetente.

A necessidade de falar uma coisa enquanto faz outra ou se dizer forçado pelo STF, também não prova que o presidente é contra as restrições para conter a covid-19, porque ele sabe que a economia vai afundar, seja pelas mortes ou pelas restrições.

Prova apenas que ele é covarde, tentando fugir da responsabilidade de encontrar uma solução. Para não assumir a culpa caso fracasse.

O objetivo, bem claro, é manter um patrimônio eleitoral que inclui, aí sim, negacionistas.

Desde que tudo começou, há quase um ano, Bolsonaro já tinha todas as informações sobre a tragédia que viveríamos, tanto na saúde quanto na economia. Suas falas, desde então, provam isso.

Ele estava certo quando dizia que a economia ia quebrar e estava certo quando dizia que muita gente iria morrer.

Mas, como todo bom oportunista, tratou de construir uma narrativa em que ele seria eximido de toda a culpa.

No discurso de Bolsonaro dos últimos 12 meses, a economia vai quebrar por causa dos governadores que "fecharam tudo" e as pessoas estão morrendo porque não tomaram o remédio que ele mandou tomar.

Há os que sabem que isso é mais uma bobagem dita pelo presidente.

Há os que ficam na dúvida.

E há os que acreditam em Bolsonaro.

Os primeiro votam contra a reeleição.

Os que têm dúvidas são os que acabam votando nele, caso ele dispute contra candidatos do PT, por exemplo, ou vão anular o voto, ajudando o presidente.

Os últimos, o reelegem.

Criar dúvidas, dissenso e questionamentos é a maior arma eleitoral de Bolsonaro.

Enquanto finge a dor que deveras sente, ele divide o Brasil. E vai acabar sobrevivendo.

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