Cena Política

O que preocupa tanto os bolsonaristas ao ter Renan Calheiros como relator da CPI? Uma breve história pra explicar

Renan Calheiros era presidente do Senado quando Dilma Rousseff sofreu o impeachment. Virou uma atração à parte no julgamento.

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Igor Maciel

Publicado em 16/04/2021 às 17:52 | Atualizado em 16/04/2021 às 17:59
Análise
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Entre 2015 e 2016, este colunista esteve em Brasília acompanhando todo o processo e as votações que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff (PT).

Quando o julgamento chegou ao Senado, uma figura tornou-se protagonista e mudou o curso dos acontecimentos: Renan Calheiros (MDB).

O senador alagoano era o presidente do Senado, mas não ocupou a presidência no impeachment, já que essa é uma prerrogativa do presidente do STF, na época Ricardo Lewandowski.

A atuação política de Renan, porém, quando os holofotes estão voltados para ele, é digna de "assistir comendo pipoca", concordando ou não.

Ele tomou conta da situação. Orientou Lewandowski, fez acordos com os blocos partidários, conduzia o noticiário.

Atuava como um aliado crítico da petista. Não queria virar sócio da tragédia, mas empenhou-se em reduzir danos. Foi dele, por exemplo, a ideia de salvar os direitos políticos da presidente.

Quando os senadores estavam prontos para votar, Renan convenceu Lewandowski a chamar um intervalo, subiram ao gabinete da presidência e voltaram, algumas horas depois, com a "solução" pronta.

Quando soube, ainda nos bastidores, a reação do senador Fernando Collor (Pros) chamou atenção. "Eu fiquei oito anos sem poder ser candidato. Quer dizer que isso era possível? Quem vai me devolver os anos que eu passei exilado da política?".

Aécio Neves (PSDB), então senador, que havia perdido duas eleições para a petista, era outro revoltado.

No plenário, quando alguém tentou reclamar, Renan apelou para a "imaginação".

Disse aos colegas: "imaginem se alguém atravessa a praça dos Três Poderes com uma liminar debaixo do braço agora, vai ao STF, e anula todo o julgamento. Não é melhor resolver logo?"

A fala soou como uma ameaça e, quem estava reclamando se entreolhou.

Não havia previsão legal para isso e, até hoje, não se explica direito como essa "solução" foi encontrada. Mas, os senadores votaram imediatamente. Cassaram Dilma, e mantiveram seus direitos políticos. 

É esse Renan que vai ser relator da CPI da Pandemia.

Por isso, os bolsonaristas estão muito preocupados.

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