Concessão de parques do Recife trará benefícios, mas se a proposta viesse de um gestor de direita estaria tudo bem?
A medida é correta, se for bem construída, pode trazer muitos benefícios, mas vale a reflexão: se o prefeito fosse de direita, quanto tempo demoraria até alguém se acorrentar nos parques com alguma faixa escrita "não negociem as sombras das árvores"?
É interessante como a possível concessão de parques públicos do Recife, os atuais e os que estão sendo construídos, não provoca os habituais protestos dos sindicatos, associações ou grupos ligados a partidos políticos gritando coisas como "querem privatizar as árvores" ou "querem vender a terra em que pisamos".
Estamos bem acostumados, claro, à seletividade crítica desses grupos quando o governo é aliado e é de esquerda. Basta lembrar que o PT promoveu muitas privatizações em seus dois governos, mas chamava de "concessão", dizia que era pro bem do povo e "estava tudo bem".
Há dois critérios, na verdade, para esses grupos julgarem se a privatização é "um crime" ou se é pro "bem das pessoas": o que eles ganham ou deixam de ganhar e se quem faz é de esquerda.
O último critério é bem óbvio, porque atende a uma informal lei maior que rege partidos da esquerda brasileira, com um só artigo bem simples. "Qualquer ação que não for ideia nossa é crime e deixa de ser crime na medida em que for realizada por nós".
Em 2007, no governo petista, 2,6 mil km de rodovias federais foram licitadas. No mesmo ano, a Hidrelétrica de Santa Antônio, no rio Madeira, foi leiloada. Em 2008 foi a vez da hidrelétrica de Jirau. Em 2008, também, o governo Lula vendeu ações da Amazônia Celular. Depois Dilma, iniciou o processo das concessões dos aeroportos.
E, no meio desse saldão, toda a esquerda comemorou e propagou o lançamento de um livro que tinha como título "A Privataria Tucana". Afinal, de que serve o bom senso de realidade quando o importante é o marketing.
O outro critério para a esquerda criticar ou não a privatização é se os membros dos sindicatos ligados aos partidos vão perder espaço nas empresas vendidas. Quando uma empresa é vendida, o sindicato dos servidores públicos da "empresa tal" perde representação. E os deputados ligados a esse sindicato perdem eleitores.
E, se o governo não for de esquerda, esses grupos não terão compensações.
Por isso, quando se falar em privatizar a Chesf, o argumento é "vão vender o rio". Mas, quando as hidrelétricas foram vendidas no governo Lula, estava tudo bem e o rio estava seguro.
Não são o rio Madeira ou o rio São Francisco que preocupam, mas o rio de benefícios que essas empresas entregam aos grupos de esquerda.
Todas essas concessões e privatizações foram necessárias e aconteceram em momentos de necessidade de modernização do Estado. Sejam as privatizações de FHC, de Lula, Dilma ou os parques de João Campos, o poder público não pode tomar conta de tudo e fazer isso bem.
Só pensa o contrário quem se beneficia da falta de estrutura das empresas públicas. E, pode apostar, não falta quem se aproveite disso.
O prefeito do Recife está de parabéns se souber construir um modelo que ofereça serviços, estrutura e segurança à população que utiliza os parques, sem representar grandes custos, dentro de um modelo acessível.
E os grupos que reclamam sempre não devem reclamar. Porque é a esquerda quem está fazendo e os sindicatos e deputados não vão perder influência política ou cargos no processo.
Mas, vale a reflexão. Se o prefeito fosse de direita, quanto tempo demoraria até alguém se acorrentar nos parques com alguma faixa, escrita: "não negociem as sombras das árvores"?